Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacienñtes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco. A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado. Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas. São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir é
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CASA SOMENTE CANTO / CASA SOMENTE PALAVRA (Gonzaga Leão)
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“Eu sei que a casa escutava
eu sei que a
casa sentia
pois quando
falava a casa
a casa se
comovia”
Gonzaga Leão
LEÃO, Luiz Gonzaga. Casa somente canto -
Casa somente palavra. São Paulo:
Escrituras,
1995. 85 p. Capa e uma sobrecapa de papel manteiga. Formato
18x13 cm
POEMA UM
Se você deseja
com seu coração
ou se é com seu sonho
— sua solidão —
o que mais almeja,
se é com seu corpo
e sua peleja
que realmente quer
fazer sua casa,
não importa a forma
que ela possa ter,
pois a casa é
para ser sentida
para ser vivida
para ser amada
e ser possuída
não para se ver.
(...)
Mas se você quer
se deseja dar-se
por completo à casa
dê primeiramente
todos os seus pertences:
dê sua camisa
quando mais suada
dê os seus sapatos
quando mais usados
e a gravata quando
mais amarrotada
e o seu terno quando
ele mais surrado,
pois nós doamos
se nós nos gastamos
quando as coisas nossas
do cotidiano
junto a nós se gastam.
(,,,)
Para que a casa
tenha nosso jeito
e dos nossos corpos
tenha seus trejeitos
e assim bem a casa
seja com efeito
casa construída
tendo nós por teto
nós por dependências
tendo nós por chão
nós por objeto.
POEMA TRÊS
O que me fascina
numa casa são
suas cumeeiras
e dos seus jardins
quando em floração
suas trepadeiras.
Como nas estradas
o que mais me agrada
são suas ladeiras
— tanto nas subidas
quanto nas descidas
pois é sempre assim
que tem sido a vida
minha vida inteira.
*Um livro fundado no tema proposto: a habitalibilidade da
casa, sua interrelação com o ocupante. Unidade perfeita. “Casa somente canto/
Casa somente palavra” é de 1985, que eu descobri na estante de uma livraria de
Maceió. Tem algo de João Cabral de Melo Neto, sem a secura do mestre
pernambucano; ao contrário, Gonzaga Leão é úmido, não abre mão do lirismo, mas
ambos são engrenheiros do verso, compondo sobre um tema obsessivamente. Gonzaga
Leão é reiterativo com J.C., pelos meandros do discurso que não abandona
a descrição, sem descrever, por circunlóquios verbais: “Partir como sei bem
partir de mim”, sem cortar as rimas, que pautam o ritmo. “Mas como pode/ ficar
assim/ se a casa existe/ dentro de mim?” Antônio Miranda
Noite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: "Espera ao menos que desponte a aurora! Tua alcova é cheirosa como um ninho... E olha que escuridão há lá por fora! Como queres que eu vá, triste e sozinho, Casando a treva e o frio de meu peito Ao frio e à treva que há pelo caminho?! Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! Não me arrojes à chuva e à tempestade! Não me exiles do vale do teu leito! Morrerei de aflição e de saudade... Espera! até que o dia resplandeça, Aquece-me com a tua mocidade! Sobre o teu colo deixa-me a cabeça Repousar, como há pouco repousava... Espera um pouco! deixa que amanheça!" — E ela abria-me os braços. E eu ficava.
Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacienñtes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco. A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado. Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas. São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir é
Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande. As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela. Temos que nos bastar… nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam… não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das bo
Eu vinha de Canindé Com sono e muito cansado Quando vi, perto da estrada Um juazeiro copado. Subi, armei minha rede, Fiquei nele deitado. Como a noite estava linda Procurei ver o cruzeiro, Mas cansado como estava Peguei no sono ligeiro, Só acordei com os gritos Debaixo do juazeiro. Quando olhei para baixo Eu vi um porco falando, Um cachorro e uma cobra E um burro reclamando, Um rato e um morcego E uma vaca escutando. O porco dizia assim: -“Pelas barbas do capeta! Se nós ficarmos parados A coisa vai ficar preta... Do jeito que o homem vai Vai acabar o planeta. Já sujaram os sete mares Do Atlântico ao mar Egeu, As florestas estão capengas, Os rios da cor de breu E ainda por cima dizem Que o seboso sou eu. Os bichos bateram palmas, O porco deu com a mão, O rato se levantou E disse: – “Prestem atenção, Eu também já não suporto Ser chamado de ladrão. O homem, sim, mente e rouba, Vende a honra, compra o nome. Nós só pegamos a sobra Daquilo
Rubem Alves Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma". Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que
Como sândalo humilde que perfuma O ferro do machado que lhe corta, Eu hei de ter minha alma sempre morta Mas não me vingarei de coisa alguma. Se voltares um dia à minha porta, Tangida pela fome e pela bruma, Em vez da ingratidão, que desconforta, Terás um leito sobre um chão de pluma.
Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no bangüê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! "Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! "minha mãe me penteou minha mad
Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso.
"Deixa-me, fonte!" Dizia A flor, tonta de terror. E a fonte, sonora e fria, Cantava, levando a flor. "Deixa-me, deixa-me, fonte! " Dizia a flor a chorar: "Eu fui nascida no monte... "Não me leves para o mar". E a fonte, rápida e fria, Com um sussurro zombador, Por sobre a areia corria, Corria levando a flor. "Ai, balanços do meu galho, "Balanços do berço meu; "Ai, claras gotas de orvalho "Caídas do azul do céu!... Chorava a flor, e gemia, Branca, branca de terror, E a fonte, sonora e fria Rolava levando a flor. "Adeus, sombra das ramadas, "Cantigas do rouxinol; "Ai, festa das madrugadas, "Doçuras do pôr do sol; "Carícia das brisas leves "Que abrem rasgões de luar... "Fonte, fonte, não me leves, "Não me leves para o mar!... " As correntezas da vida E os restos do meu amor Resvalam numa descida Como a da fo
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