Um Amor (Emanuel Galvão)

Imagem
              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacienñtes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

CASA SOMENTE CANTO / CASA SOMENTE PALAVRA (Gonzaga Leão)






“Eu sei que a casa escutava
eu sei que a casa sentia
pois quando falava a casa
a casa se comovia” 
 Gonzaga Leão



LEÃO, Luiz Gonzaga.  Casa somente canto -  Casa somente palavra.   São Paulo: 
            Escrituras, 1995.  85 p.  Capa e uma sobrecapa de papel manteiga. Formato
            18x13 cm



POEMA UM

Se você deseja
com seu coração
ou se é com seu sonho
— sua solidão —
o que mais almeja,
se é com seu corpo
e sua peleja
que realmente quer
fazer sua casa,
não importa a forma
que ela possa ter,
pois a casa é
para ser sentida
para ser vivida
para ser amada
e ser possuída
não para se ver.

(...)


Mas se você quer
se deseja dar-se
por completo à casa
dê primeiramente
todos os seus pertences:
dê sua camisa
quando mais suada
dê os seus sapatos
quando mais usados
e a gravata quando
mais amarrotada
e o seu terno quando
ele mais surrado,
pois nós doamos
se nós nos gastamos
quando as coisas nossas
do cotidiano
junto a nós se gastam.

(,,,)


Para que a casa
tenha nosso jeito
e dos nossos corpos
tenha seus trejeitos
e assim bem a casa
seja com efeito
casa construída
tendo nós por teto
nós por dependências
tendo nós por chão
nós por objeto.

POEMA TRÊS

O que me fascina
numa casa são
suas cumeeiras
e dos seus jardins
quando em floração
suas trepadeiras.
Como nas estradas
o que mais me agrada
são suas ladeiras
— tanto nas subidas
quanto nas descidas
pois é sempre assim
que tem sido a vida
minha vida inteira.

*Um livro fundado no tema proposto: a habitalibilidade da casa, sua interrelação com o ocupante. Unidade perfeita. “Casa somente canto/ Casa somente palavra” é de 1985, que eu descobri na estante de uma livraria de Maceió. Tem algo de João Cabral de Melo Neto, sem a secura do mestre pernambucano; ao contrário, Gonzaga Leão é úmido, não abre mão do lirismo, mas ambos são engrenheiros do verso, compondo sobre um tema obsessivamente. Gonzaga Leão  é reiterativo com J.C., pelos meandros do discurso que não abandona a descrição, sem descrever, por circunlóquios verbais: “Partir como sei bem partir de mim”, sem cortar as rimas, que pautam o ritmo. “Mas como pode/ ficar assim/ se a casa existe/ dentro de mim?”   Antônio Miranda





*Veja também o dois http://www.youtube.com/watch?v=Z9pnCeVQFyg

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TERCETOS (Olavo Bilac)

Um Amor (Emanuel Galvão)

BORBOLETAS (Mario Quintana)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

ESCUTATÓRIA (Rubem Alves)

Se Voltares (Rogaciano Leite)

Essa Negra Fulô (Jorge de Lima)

A FLOR E A FONTE (Vicente de Carvalho)