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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

FALANDO DE NAMORAR (Affonso Romano de Sant’Anna)

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Jorge Ben tem aquela música que diz que « todo dia é dia de índio ». E tem razão : os indios têm o calendário deles e nós o nosso. Daí que queiram flechar os peixes que nadam nos lagos do palácio de Brasília como mostram os jornais. Mas o que eu queria dizer, nessa repescagem, já que dia 12 foi instituido como dia dos namorados, é que todo dia é dia de namorar. Namoro que é namoro não se contenta com data marcada. Diz outra música : « o coração tem razões, que a própria razão desconhece ».