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O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

ESSA QUE EU HEI DE AMAR... (Guilherme de Almeida)

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Mulher Caminhando Poto: Erian Stock Deviantart Essa que eu hei de amar perdidamente um dia, será tão loura, e clara, e vagarosas, e bela, que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela, trazer a luz e calor a esta alma escura e fria. E, quando ela passar, tudo o que eu não sentia da vida há de acordar no coração que vela... E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela como sombra feliz... —  Tudo isso eu me dizia, quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro, e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro do poente, me dizia adeus, como um sol triste... E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado, mas ia tão perdido em teu sonho dourado, meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”           (De Messidor, 1935)

XVII (Guilherme de Almeida)

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Eu em ti, tu em mim, minha querida, nós dois passamos despreocupados, como passa, de leve, pela vida,   um parzinho feliz de namorados. E assim vou, e assim vais. E, assim, unida à minha a tua mão, de braços dados, assim nós vamos, como quem duvida que haja, no mundo, tantos desgraçados. Um dia, para nós - não sei... quem sabe? -   é bem possível que tudo isto acabe, que sejas mais feliz, que eu fique louco... Mas nunca percas, nunca mais, de vista aquele moço sentimentalista que te quis muito e a quem quiseste um pouco!