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Mostrando postagens com o rótulo Sergio Vaz

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

"Brasil" (Sergio Vaz)

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A mulher repleta de lama, chora. O homem feito de barro desaba em lágrimas. De aço mesmo, só a vida -essa lâmina cega que corta sempre do mesmo lado. Foto @diniloris 2015

Literatura das Ruas (Sergio Vaz)

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A literatura é dama triste que atravessa a rua sem olhar para os pedintes, famintos por conhecimento, que se amontoam nas calçadas frias da senzala moderna chamada periferia. Frequenta os casarões, bibliotecas inacessíveis ao olho nu e prateleiras de livrarias que crianças não alcançam com os pés descalços. Dentro do livro ou sob o cárcere do privilégio, ela se deita com Victor Hugo, mas não com os Miseráveis. Beija a boca de Dante, mas não desce até o inferno. Faz sexo com Cervantes e ri da cara do Quixote. É triste, mas A rosa do povo não floresce no jardim plantado por Drummond. Quanto a nós, Capitães da areia e amados por Jorge, não restou outra alternativa a não ser criar o nosso próprio espaço para a morada da poesia. Assim nasceu o sarau da Cooperifa. Nasceu da mesma Emergência de Mário Quintana e antes que todos fossem embora pra Passárgada, transformamos o boteco do Zé Batidão num grande centro cultural. Agora, todas às quartas-feiras, guerreiros e guerreiras de todos os lad

Deusas do Cotidiano (Sérgio Vaz)

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O nome dessas mulheres eu não sei, não lembro e nem preciso saber. São nomes comuns em meio a tantos outros espalhados por esse chão duro chamado Brasil. Mas a maioria conheço bem, são donas de um mesmo destino: as miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos. É quando a pobreza não é dor, é angústia também. São as ladras de Victor Hugo. Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei. Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos. São as Quixotes de Miguel de Cervantes. Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos. Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. È quando o prazer humilha. São as habitantes do inferno de Dante. Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e o

Oficina de Poesia (Sergio Vaz)

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"o que é poesia?" O menino me perguntou. "Poesia é a forma diferente de olhar as coisas." Eu perguntei: " o que tem na minhas mãos?" "Água." Todos responderam. Perguntei de novo " o que tem nas minhas mãos?" "água." Perguntei mais uma vez, só que desta vez alguém lá no fundo disse "mar" do outro lado alguém disse "Chuva" "enchente" "lágrimas" "Vida" "suor" "refrigerante" "suco" "banho" etc. etc. etc. Aí, eu disse: "Pera lá, mas agora pouco não era só um copo de água?" "ha, ha, ha, ha, ha, ha..." E todos nós rimos como se a dor não existisse. E a água da poesia quase afogou meus olhos. O Coração já tinha transbordado há muito tempo.

'Poeta é Preso em Flagrante Sorriso' - FOLHA DA AMARGURA (Sergio Vaz)

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FOLHA DA AMARGURA  Sergio Vaz POETA É PRESO EM FLAGRANTE SORRISO Neste sábado pela manhã, a tropa de elite do mau humor, fortemente armada, conseguiu prender o poeta Augusto, 44, que estava sorrindo, sem autorização, deliberadamente em mais uma manhã terrivelmente ensolarada.  Acusado de Idiota, o poeta foi enquadrado na lei nº777, denominada "Tristeza não tem fim" e imediatamente levado ao Departamento das caras amarradas, no Centro das Mágoas, em São Paulo.

A Vida é Loka (Sergio Vaz)

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Esses dias tinha um moleque na quebrada com uma arma de quase 400 páginas na mão. Uma minas cheirando prosa, uns acendendo poesia. Um cara sem nike no pé indo para o trampo com o zóio vermelho de tanto ler no ônibus.

Fim do Amor (Sergio Vaz)

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Sim, o amor acabou, mas obrigado por ter começado. Fui feliz porque te amei honrado por ter estado ao seu lado, mas ainda que tua boca diga que me ama o silêncio dos teus olhos aflige meu coração.