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Mostrando postagens de outubro, 2022

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

Novo Tempo (Ivan Lins)

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No novo tempo, apesar dos castigos Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver Pra que nossa esperança seja mais que a vingança Seja sempre um caminho que se deixa de herança No novo tempo, apesar dos castigos De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver Pra que nossa esperança seja mais que a vingança Seja sempre um caminho que se deixa de herança No novo tempo, apesar dos castigos Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer No novo tempo, apesar dos perigos A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça P

Radyr - Poeta Exemplar (Paulo Miranda Barreto)

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  (Para Radyr Gonçalves)   quebra cabeças de bagre! quebra cabeças de vento! diz uva,  vinho  e vinagre com o mesmo alumbramento!   transmuda alegria em mágoa e mágoa em contentamento! dá nó cego em pingo d’água sem pejo ou constrangimento!   e , com luvas de pelica dá murro em ponta de faca belisco em jaguatirica e sopapo em jararaca   é sábio .. . versa ‘pra burro’! (com calma ou de supetão) faz trovão virar sussurro! silêncio virar canção!   faz poema à beira-mar. . .   nas caatingas do sertão . . .  ao sol . . . à luz do luar ou em plena escuridão   louva à Deus e vexa o Cão! o Cabra é bom pra danar! sabe arrasar a razão ! esse é versado em versar !   tem dom pra vender e dar! (e bom coração também)! é um Poeta Exemplar. . . e ainda diz : O que há? Não sou melhor que ninguém!   PAULO MIRANDA BARRETO Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição CompartilhaIgual 4.0 Internacional -.