Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2019

O Beijo (Elsa Moreno)

Imagem
O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Harmonia (Marla de Queiroz)

Imagem
São delicados e sutis os fios da harmonia. Ao contrário da alegria, do entusiasmo, ela é uma das sensações mais discretas. Sua voz é quase imperceptível, feito outra qualidade de silêncio. Ela não é uma gargalhada, é aquele sorriso por dentro, uma sensação gostosa de estar no lugar certo, na hora adequada. Feito um arco-íris depois da tempestade, sua beleza é adornada pelo equilíbrio dentro do derramamento. É um adestramento dos fantasmas internos. A possibilidade de aprimorar os pensamentos. É quase como não pensar. Simplesmente, sentimos uma ligação profunda com tudo, um denso bem-estar. Como se tivéssemos uma secreta intimidade com o mundo, certa cumplicidade com o tempo. É como se observássemos descompromissados, ela é uma descontração. Como se o coração batesse pelo corpo todo, mas sem extremada euforia. Uma tranqüilidade dilatada no peito, o olhar satisfeito, a mente entendendo que já nem precisa entender o que é prosa ou poesia. E o mundo inteiro cabendo num abraço. E uma fi...

Não Há Elogio Maior Que o Desejo (Felipe Machado)

Imagem
Não há elogio maior do que desejar alguém. Há adjetivos que podem simular o desejo, há qualidades que podem ser destacadas em uma frase simpática ou sensual inserida no meio do diálogo rotineiro. Mas o desejo, mesmo, aquele que move montanhas e inspira loucuras, esse só se diz com o com os olhos. Ou com o corpo. (Não é à toa que em inglês ‘desire’ (desejo) rima com fire (fogo), assim como não é à toa que em português rima com ‘beijo’…) A Wikipedia define desejo como “uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação”. Mas é sério que alguém acha que é possível expressar o desejo em palavras? Eu seria mais pragmático. Desejo é querer muito, muito, muito… alguém. Há muitas maneiras de encarar o desejo. Há o desejo material, aquele que busca satisfazer nossas necessidades consumistas. Há o desejo espiritual, a vontade de encontrar um equilíbrio utópico entre as forças que regem a existência. Há o desejo por justiça – ou vingança -,...

Elogio ao Desejo (Emanuel Galvão)

Imagem
A ansiedade toma conta do meu corpo... Espero que teus ditos machuquem minha alma ou provoque gozo. Não entendo a demora das palavras... Mas, acredito que ao ler-me... pretensiosamente teu membro responda, e o sêmen seja a tinta das tuas letras e apresente em mim  um desejo incontrolável de comer tuas frases  e de vê-lo.                                                 (S.L.) A tua nudez me fascina,  E ao ver-te nua de forma tão traquina, Lanço fora as vestes de minha timidez, Para escrever com lábios em tua linda tez. A lascívia, assim como o desejo Não convêm aos sábios... Prova então da língua, cheia de desejo, Louca e sem palavras, nos teus grandes E pequenos lábios. Quase sinto o gosto do verbo em carne viva Pois que paixão tentadora, voraz e tão lasciva Não tem que ter senso, tampouco pejo, Entrego então meu corpo,...

Olhos (Ademir João da Silva)

Imagem
Olhos que prendem como o visgo prende o passarinho Olhos que fazem perder-se o íntimo Olhos nítidos que fisgam para o seu cristalino Neste lago há redemoinhos Que engolem o coração Tesão, tensão, paixão Olhos da medusa? Com certeza olhos da deusa Olhos vivos Olhos craúna O que há no fundo destas minas? Rubis...topázio...destinos Que destino? Náufrago é, quem mergulha neles. Copyright © 2019 by Ademir João da Silva All rights reserved.