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Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

O MELHOR PRESENTE (Onildo Barbosa)

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Meu deus se o senhor tiver Um presente prá me dar Se a caso for salvação, Nem precisa me salvar! Quer me dá mesmo um presente Deixe eu voltar novamente Prá viver no meu lugar. Eu já tô ficando velho Não tenho a mesma saúde Deixe eu ver a minha terra, Por favor, deus, me ajude! Deixe eu andar nos caminhos, Escutando os passarinhos, Tomando banho de açude. Deixe-me sentir o cheiro Da fumaça do fogão, Assando milho na brasa Da fogueira de são joão Comer xerêm na tigela Debruçar-me na janela, Do antigo casarão. Desde que eu era mocinho Que deixei o meu torrão, Tentando viver melhor Mas tudo foi ilusão De cidade, por cidade, Passando dificuldade, Vergonha e decepção. Já criei duas famílias Sem direito a sossegar, Tudo que arranjei foi pouco Não pude economizar Agora vivo tristonho Toda vez que durmo sonho Voltando ao meu lugar. Tem sonho que até parece Que eu to mesmo acordado Vendo mamãe na cozinha, Meu pai tratando do gado, O sonho é tão verda