Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Juliano Beck

O Beijo (Elsa Moreno)

Imagem
O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Um surdo manifesto: DA ALMA ENCANTADORA DAS RUAS AOS MOLEQUES ACOSTUMADOS COM SUCRILHOS NO PRATO - ou dos textos que poucos leem e muitos fingem não entender - (Juliano Beck)

Imagem
“Qual de vós já passou a noite em claro  ouvindo o segredo de cada rua?  Qual de vós já sentiu o mistério, o sono,  o vício, as ideias de cada bairro?  A alma da rua só é inteiramente sensível  a horas tardias." (João do Rio)  Os usos que se faz da rua divergem. Ao pobre a rua é uma extensão de si. Lhe invade o peito a brisa matutina quando ao labor se encaminha de bicicleta. Lhe toma por inteiro o cheiro virulento das povoadas horas do terminal meio-dia. Lhe afaga quando o fim de tarde lhe cai sob o dorso trazendo os matizes que não se dão por vencidos frente à inevitabilidade gris que a tudo concretiza. Há nisso uma noção de pertencimento, orgulhoso pertencimento. Tudo lhe foi tirado, arrancado, mas ele dispõe da rua! Por ela anda vagarosamente sentindo as entranhas de cada esquina. É dela que tira o seu sustento. Nela também se põe a ruminar a vida. E sorve um trago nas recônditas tabernas do centro. E nela perde a noção do tempo. ...