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Mostrando postagens de novembro, 2014

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

Um dia atrás do outro (Rita de Cássia Tenório Mendonça)

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* Os dias vêm se sucedendo numa cadência que não me diz respeito. Os dias nascem e se encerram com o mesmo colorido, o mesmo calor ameno e a mesma penetração de luz. Nada muda. A vida parece não caminhar em meu ritmo. Sim, sei que ela passa. Sei sim. Vejo as marcas da vida na pele de minhas mãos e ao redor de meus olhos. Odeio esses sinais do tempo! Não poderiam ser outras, em locais menos visíveis, essas marcas do que vivi? Não poderia a aridez da idade se concentrar toda num lugar só lá na sola de meu pé esquerdo, como um arremate bem feito, onde eu só pudesse vê-lo com muita dificuldade, em contorsão? Ou por que não no avesso de minha pele, lá pela nuca, perdido entre os cabelos em costura de fio invisível? Construí minha vida, estou certa. Sou inquieta demais para ficar na janela escutando música. Mas nos últimos tempos os acontecimentos parecem alheios a meu ritmo. A vida parece ter me esquecido em algum cantinho sem graça, em alguma estrad

Sol(riso) Adriana Moraes

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Você queria companhia Ele queria par O Sol concorre c om teu sorriso E perde.  Covardia! * Copyright © 2014 by Adriana Moraes      All rights reserved.