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Mostrando postagens com o rótulo Sidney Wanderley

O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Não Minto (Sidney Wanderley)

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‘É repousante achar-se entre mulheres bonitas. Por que sempre mentir sobre tais coisas?’ - segredou-me em certa página Ezra Pound. Entanto eu, quando entre elas - desengonçada jiboia, pé e perna Que no plano se projetam Para a topada e a queda – Assusto-as, ou assusto-me demasiado.

A Missão (Sidney Wanderley)

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Todas as palavras e despalavras que haviam de ser ditas, malditas -todas-, já o foram. Mesmo o silêncio, fala sem voz, em seus inumeráveis disfarces e variações -todos-, já se fez.

INEQUAÇÃO (Sidney Wanderley)

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Não se entra e sai da amada como se entra e sai do teatro. Do teatro se entra e sai da mesma forma e maneira: com cinco dedos por mão, com vinte dedos no corpo, trinta idéias na cabeça, algum dinheiro no bolso; com vida, se entrarmos vivos; defuntos, se entrarmos mortos. Na amada mergulhamos por completo, inteiramente, e quando à tona tornamos há em nós algo de menos: pode ser nosso suor a encharcar nossas vestes; nosso sangue, nosso sêmen que em seu ventre floresce; pode ser nossa agonia, nossa careta de gozo ou nossa contrição de prece. O fato é que algo resta longe de nós, naufragado, e não mais somos quem éramos quando cansados fugimos do mar gozoso da amada. Não se entra e sai da amada como se entra e sai de um auto. Num auto se entra e passeia por ladeiras e ruas planas, por campos, charcos, desertos, asfalto, barro batido, canaviais, açucenas, e ao final da jornada restamos inteiros e vivos, de igual forma como entramos. Na amada mergulhamos por completo, inteiramente, e qu...