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Mostrando postagens com o rótulo Sidney Wanderley

Das Vantagens de Ser Bobo (Clarice Lispector)

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  O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado, quase sem se mexer por duas horas. Se perguntando por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea o

Não Minto (Sidney Wanderley)

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‘É repousante achar-se entre mulheres bonitas. Por que sempre mentir sobre tais coisas?’ - segredou-me em certa página Ezra Pound. Entanto eu, quando entre elas - desengonçada jiboia, pé e perna Que no plano se projetam Para a topada e a queda – Assusto-as, ou assusto-me demasiado.

A Missão (Sidney Wanderley)

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Todas as palavras e despalavras que haviam de ser ditas, malditas -todas-, já o foram. Mesmo o silêncio, fala sem voz, em seus inumeráveis disfarces e variações -todos-, já se fez.

INEQUAÇÃO (Sidney Wanderley)

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Não se entra e sai da amada como se entra e sai do teatro. Do teatro se entra e sai da mesma forma e maneira: com cinco dedos por mão, com vinte dedos no corpo, trinta idéias na cabeça, algum dinheiro no bolso; com vida, se entrarmos vivos; defuntos, se entrarmos mortos. Na amada mergulhamos por completo, inteiramente, e quando à tona tornamos há em nós algo de menos: pode ser nosso suor a encharcar nossas vestes; nosso sangue, nosso sêmen que em seu ventre floresce; pode ser nossa agonia, nossa careta de gozo ou nossa contrição de prece. O fato é que algo resta longe de nós, naufragado, e não mais somos quem éramos quando cansados fugimos do mar gozoso da amada. Não se entra e sai da amada como se entra e sai de um auto. Num auto se entra e passeia por ladeiras e ruas planas, por campos, charcos, desertos, asfalto, barro batido, canaviais, açucenas, e ao final da jornada restamos inteiros e vivos, de igual forma como entramos. Na amada mergulhamos por completo, inteiramente, e qu