Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

Imagem
 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

O Professor Instrutor e o Professor Educador (Miguel Almir L. de Araújo)



Na cotidianidade das práticas educativas, duas posturas modulares podem ser encontradas naqueles que as conduzem: os que assumem o predomínio das características do papel de professores instrutores e os que se comprometem primordialmente com os propósitos de professores educadores.
São bastante relevantes e demarcadoras as diferenças entre as duas posturas. Os que “vestem a camisa” de professores instrutores assumem os encargos do papel de treinadores que viabilizam a profissionalização dos indivíduos mediante conteúdos e técnicas estabelecidas de cunho funcional e pragmático. Desse modo, o que é prioritário é a instrução para os papéis sociais, para o domínio dos saberes técnicos e instrumentais que tendem a conformar e adaptar esses indivíduos aos padrões socialmente instituídos.

Os que abraçam a tarefa de professores educadores nas práticas educativas as realizam como experiências de natureza teórico-vivencial que se nutrem com os saberes instituídos, mas procuram, cotidianamente, recriá-los e ressignificá-los contextualmente buscando atingir os caminhos mais vastos da sabedoria. Desse modo, as práticas educativas vislumbram muito mais que a mera instrução para os papéis e funções sociais, elas conduzem os indivíduos para a formação da inteireza do ser entrelaçando razão e intuição, corpo/emoção e mente/espírito.
O professor instrutor cumpre obrigações. O professor educador celebra paixões. O professor instrutor superestima o quantitativo, instrumentaliza para o ter que tende à coisificação e a mercadejação do humano. O professor educador realça a busca do qualitativo, da globalidade do ser, da dignidade e da beleza humana; conduz à vocação, à voz do coração.
O professor instrutor assume a função de mero transmissor e reprodutor dos saberes instituídos submetendo os indivíduos aos ditames estabelecidos, ao adestramento e à domesticação. O professor educador passa pelo já instituído e busca instituir novos saberes e sentires procurando rasgar os papéis e as máscaras que empacotam e escondem, instigando a autenticidade, o espírito criador e transgressivo.
O professor instrutor repete todo dia os mesmos cacoetes e recursos metodológicos na cadência decadente das rotinas emboloradas e desencantantes. O professor educador reinventa permanentemente seus procedimentos, renovando-se e reencantando-se com o aprendizado vigoroso de cada experiência vivida. O professor instrutor considera-se detentor do saber, pretensamente pronto e acabado. O professor educador concebe-se aprendiz inacabado nos fluxos do cotidiano.
O professor instrutor circunscreve-se na geometria do tempo linear do chronos. O professor educador descortina-se pelas curvas do tempo dinâmico do kairós. O professor instrutor dá aulas previsíveis, insípidas e frias. O professor educador tece aulas imprevisíveis, abertas ao fluxo das aventuras, ruminando o saber com sabor, convertendo-as em vivências vívidas e encantantes; em constantes ritos de iniciação e de renovação dos pensares e sentires. O professor instrutor percorre os caminhos já feitos do ordinário, mais fáceis e cômodos. O professor educador ousa as veredas ainda não trilhadas, mais desafiantes e difíceis, inaugurando caminhos novos, extraordinários.
O professor instrutor tende a reduzir as salas de aula em “selas de aula” aprisionantes e cinzentas, em que reinam a tristeza e o desprazer, e a vida, os sonhos são mortificados. O professor educador converte as salas de aula em espaços abertos e multicoloridos, em que vicejam a alegria e o prazer, e a vida, os sonhos são vicejados – em espaços de celebração da vida.
O professor instrutor obedece aos receituários das liturgias mecânicas e cristalizadas, com suas normas e ordens asfixiantes. O professor educador ultrapassa as receitas desodorizadas e move-se pelas buscas dinâmicas das transformações constantes e emancipadoras entre ordem e caos. O professor instrutor transmite saberes. O professor educador rumina saberes e busca sorver sabedorias. O professor instrutor erige suas práticas pedagógicas com lógicas monológicas, metálicas e excludentes. O professor educador fundamenta-se em lógicas dialógicas, flexíveis e includentes.
O professor instrutor dita conteúdos para que os alunos copiem e assimilem de modo reflexo. O professor educador problematiza conteúdos para que os alunos reflitam e compreendam criticamente. O professor instrutor encampa modelos uniformes lastreados em certezas fixas. O professor educador articula múltiplas referências fundadas em possibilidades abertas, em incertezas. O professor instrutor privilegia o logos, a cognição, a mente. O professor educador entrelaça logos e eros, cognição e intuição, mente e corpo.
O professor instrutor reduz-se aos muros/muralhas da escola, da sala de aula. O professor educador transpõe esses limites trespassando os horizontes expansivos do cotidiano movente da vida. O professor instrutor professa voto de fidelidade às alianças cultuadoras das burocracias que tendem à domesticação e à subjugação. O professor educador concebe a necessidade mínima de burocracia, sendo esta, mero instrumento que deve estar a serviço dos direitos e liberdades fundamentais do ser humano.
O professor instrutor busca as competências técnica e teórica, a inteligência cognitiva. O professor educador busca as competências técnica e teórica, mas, principalmente, as competências éticas e estéticas, as inteligências cognitiva, intuitiva e emocional. O professor instrutor tende à intolerância e até ao abuso de poder, fala muito e quase não escuta. O professor educador prima pelos princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta sensível.
O professor instrutor prima pelos vãos do ter. O professor educador prima pelos desvãos do ser. O professor instrutor busca a reluzência das performances externas dos indivíduos. O professor educador passa pela exterioridade como caminho que conduz às dimensões mais profundas da interioridade do ser, ao autoconhecimento.
O professor instrutor acomoda-se nas linhas retas e regulares das planícies. O professor educador aventura-se pelas curvas e acidentalidades das montanhas. O professor instrutor habitua-se à rotina das tartarugas e das galinhas que rastejam e ciscam a superfície da terra. O professor educador, como a águia, nutre-se das energias da terra e alça seus vôos bailantes pelos ermos do incomensurável.
O professor instrutor privilegia o desenvolvimento das dimensões mais instintivas que traduzem os aspectos mais materialistas do ser humano, as quais, isoladas, fomentam o espírito de competição e de arrogância que desembocam em brutalização e barbárie. O professor educador assume as múltiplas dimensões do humano, passando pelo instinto e atingindo o coração e o espírito de fineza fomentando a solidariedade e a amorosidade. O professor instrutor confina o humano apenas à esfera do material/físico, do imediato e do visível (pedagogia do São Tomé). O professor educador educa para a imanência e para a transcendência, para o invisível, para os valores humanos – a espiritualidade.


Comentários

  1. Amei ter a oportunidade de ler esta obra tão importante para nós educadores. Meus Parabéns.prof. Edna Psicopedagoga

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Ele é importante para nós. Apos verificação ele será publicado.

Postagens mais visitadas deste blog

Eu Te Desejo (Flávia Wenceslau)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

'ATÉ QUE A MORTE...' (Rubem Alves)

MEUS SECRETOS AMIGOS (Paulo Sant'Ana)

Namoro (Emanuel Galvão)

TÊNIS X FRESCOBOL (Rubem Alves)

Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

Eu não gosto de você, Papai Noel!... (Aldemar Paiva)

Gritaram-me Negra (Victoria Santa Cruz)