Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

“A mãe será capaz de se esquecer, ou deixar de amar algum dos filhos que gerou?” (Adriana Moraes)


       Acordei meio mexida e carecia de escrever, é que escrevendo, organizo a minha dor... Bem de mansinho ela me chamou e disse: - Ei mulher, me ajude aqui. Eu não me lembro como é que faz pra fechar a porta. Como é, usa a chave? Ao ouvir essa sentença, me levantei, fui até a porta, mostrei como colocar a chave na fechadura e voltei tão atônita. Essa ação tão simples, que qualquer um sabe fazer, ela já não sabe.
Quando fui deitar, tentei me lembrar de algumas coisas que ela me ensinou ao longo da vida. Com ela aprendi a falar (e falar muito), a caminhar, a usar os talheres, a dizer as palavras mágicas. Lembrei-me exatamente do quanto eu a achava incrível fazendo coisas bobas como comprar peixe (ela sabia bem escolher), a capacidade de pechinchar, cálculos matemáticos mentais. “Não conte sua vida para quem não é feliz”, ela me disse mais de uma vez. No meio desse turbilhão de pensamentos, recordei de uma postagem no Facebook que dizia “Mãe deveria ser eterna”. Perdoem-me os que curtiram e até mesmo compartilharam esse post, mas de que adianta mães eternas com filhos mortais? Pior ainda, mães eternas mergulhadas num abismo de esquecimentos? Pois eu digo, é egoísmo nosso querer essa eternidade para os outros. É atentar contra a natureza. Não querer passar pela dor da perda é covardia. Tenho experimentado a perda diariamente. Temos nos perdido uma da outra, e daqui a pouco o que restará em mim é justamente o que faltará nela, lembranças. Adriana Moraes

Comentários

  1. Sua dor é tão expressiva que quase podemos tocá-la em suas palavras. Comovente.

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  2. Senti o mesmo Morena. Realmente comovente.

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