Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

A luta amorosa com as palavras (Mário Quintana)




Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me
aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda
confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas,
meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos,
mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade
demais, pois foi-nos prometida a eternidade.

Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que
me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia
descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro –
o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu.

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário,
sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é
insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem
que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam
os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro
elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras.
Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante
5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto
de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam), o que é a luta
amorosa com as palavras.



*(texto escrito pelo poeta para a revista “Isto É” de 14/11/1984)

*Veja outros textos muito bons em:Mágia da Poesia





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