Um Amor (Emanuel Galvão)

Imagem
              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

'Manhã' (Otávio Cabral)

*
Dedicado ao poeta Sidney Wanderley:


Não adianta insistir
Se a torneira está fechada

De que serve o poema ao homem
Se lhe sobra a palavra fome
E lhe falta a palavra vida?


Melhor seria fechar a torneira
(Como fez o poeta)
Sepultando as metáforas
Transtornando as estrofes
Sufocando-as na garganta?

De que serve o poema ao homem
Quando o poema está rouco
E o homem já não ouve?

Ou melhor seria mesmo
Fechar a torneira
Esperar sentado
O milagre do homem?

Afinal
De que serve o poema ao homem
Quando lhe falta o milagre do peixe
E lhe sobra o destino em novena?

De que serve o poema ao homem
Se lhe falta o consumo da força
E lhe sobra sonho ao delírio?

De que serve o poema ao homem
Se dele não extrai o último saldo
Nem digita a senha no supermercado?

De que serve o poema ao homem
Se não acessa a senha bancária
Nem reduz a parte do Imposto de Renda?

De que serve (enfim) o poema ao homem
Se dele não se serve o homem?

Serve o poema ao homem
Quando muito quando nada

(Como o galo de Cabral
quando tecendo a manhã
que anuncia a outro galo
que repassa a um outro
e a outro é repassado
para que outro o retome
e assim torne a repassar)

Para lembrar a esse homem
Como se inventa a manhã

*foto dos arquivos de Luiz Sávio de Almeida.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TERCETOS (Olavo Bilac)

Um Amor (Emanuel Galvão)

BORBOLETAS (Mario Quintana)

Se Voltares (Rogaciano Leite)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

ESCUTATÓRIA (Rubem Alves)

Essa Negra Fulô (Jorge de Lima)

A FLOR E A FONTE (Vicente de Carvalho)