Rodolfo Amoedo (Salvador, 11 de dezembro de 1857 — Rio de Janeiro, 31 de maio de 1941)
I
Não
chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta
renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos
abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um
dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só
teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer
seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O
forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso
e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas
as frontes,
Escutam-lhe a voz!
IV
Domina,
se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz
do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não
fujas da morte,
Que a morte há de vir!
V
E
pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio
nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto,
fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
VI
Teu
grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por
vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das
setas ligeiras,
Pior que o trovão.
VII
E
a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na
lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez
não escute
Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém
se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do
inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo
nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai
como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga
extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa,
conquista
Mais alto brasão.
X
As armas
ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é
lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos
bravos,
Só pode exaltar.
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