O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Antônio Preto (Geraldino Brasil)


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Nestes sonetos vos lembrar eu venho,
um dos heróis anônimos do norte.
O Antônio Preto que sorria à morte.
O Antônio Preto, domador do engenho.

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Domava potros... E na mente o tenho,
domando um potro impetuoso e forte.
Empolgante espetáculo, de sorte
que o prometer narrá-lo, é duro empenho.
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Montou. Como, eu não. E os seres broncos
em valas, tocos, entre espinho e troncos,
no descampado e após na capoeira...
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Horas inteiras cavaleiro e potro.
Um procurando dominar o outro,
ficaram entre nuvens de poeira...
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I I
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No engenho, aos dois, ninguém ficou alheio.
Homens e mulheres, velhos e crianças
e até minha mamãe compondo as tranças
que lhe caíam pelo casto seio,
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ao varandão da casa grande veio
e se agitaram as ovelhas mansas
e se agitaram porcos, gordas panças
roçando o chão da confusão em meio.
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Nenhum queria dar-se por vencido.
Mas quando à tarde, pássaro ferido,
o sol surgia ensanguentando a serra...
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Eu vi o potro manso e dominado...
E Antônio nesse, assim, olhado,
como se fosse o deus da minha terra.
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Geraldino Brasil (1926 - 1996), pseudônimo do poeta Geraldo Lopes Ferreira, nasceu no engenho Boa Alegria, município de Atalaia (AL). 



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