O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

CAMALEOA (Olívia de Cássia)




Os camaleões distinguem-se de outros lagartos pela habilidade de algumas espécies em trocar de cor. Eu não sou como a fêmea do camaleão, não uso disfarces, um para cada situação, mas bem que em determinadas horas seria melhor agir assim, para o nosso bem e ‘de toda a santa igreja’.

A vida é cheia de labirintos e às vezes é preciso ser dissimulada para não revelar sentimentos e emoções, mas infelizmente a vida não me instruiu para isso também. Não aprendi a viver de falsete, de enganações. Falo de mim, dispo-me de preconceitos e revelo todos os meus segredos, aqueles mais difíceis de serem falados.


Não é fácil ser assim, sincera, afirmativa e sem disfarces e preconceitos. Já tive muitas perdas na vida, elas me deram muito aprendizado e maturidade,mas ainda é preciso muito mais.

Não quero aqui falar de sofrimento, para não me entristecer. O sofrimento e as intempéries da vida nos fortalecem e nos torna pessoas melhores, menos arrogantes.

Não sou infeliz, já passei dessa fase de viver reclamando da vida e achar que tudo conspira contra. Hoje eu procuro ser feliz com o pouco que tenho, que já é uma imensidão diante de tanta miséria no mundo.

Fernando Pessoa disse que “o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”. No caso, a palavra conforta e reconforta, pelo menos temos esse dom de expressar a dor e torná-la mais amena.

Segundo Pessoa, "ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história".

E é isso que tenho tentado fazer, a partir das perdas que tive. Tomar o leme desse barco é preciso, ser timoneira nessa estrada nem sempre reta e nem sempre tortuosa e fazer dos sentimentos impossíveis e das adversidades uma bandeira de luta.

Tem coisas na vida que a gente não pode mudar: sentimentos, emoções, realidade. Esses a gente aceita e se conforta, sem conformismos, mas com maturidade e discernimento do que é melhor para nós e para a nossa saúde e equilíbrio.

Há outras que a gente vai à luta, conquista e não pode se conformar como as questões sociais e políticas. Foi isso que aprendi da vida; com muita luta as mulheres conquistaram seus espaços na vida e essa não podemos abdicar.

Olívia de Cássia - Jornalista

*veja mais sobre a autora aqui:

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