O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Deu Branco - O Patético Dia Que a Coisa Ficou Preta - (Emanuel Galvão)




A coisa ficou preta
Pintou preconceito
Isso eu não aceito
Dentro da minha letra
Que não tem cor
Mas imprime o preto da tinta

Tem preconceito maior
- Por favor, não minta! –
Do que atribuir a cor preta
A coisa ruim que se sinta?
Talvez a borracha branca
Apague a ideia nefasta
Mas não afasta
Mancha...

O preconceito racial existe
Na letra, na vida, no verso
Faz parte do universo
De quem ama
De quem odeia
O preto reclama
Por que sente na pele
O preconceito que o rodeia

Pode parecer eufemismo
Mas para mim é racismo
Dizer que a coisa ta preta.


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