Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacienñtes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Os Ombros Suportam o Mundo ( Carlos Drummond de Andrade)

*

            Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
            Tempo de absoluta depuração
            Tempo em que não se diz mais: meu amor.
            Porque o amor resultou inútil.
            E os olhos não choram.
            E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
            E o coração está seco.

            Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
            Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
            mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
            És todo certeza, já não sabes sofrer.
            E nada esperas de teus amigos.

            Pouco importa venha a velhice, que é a velhice ?
            Teus ombros suportam o mundo
            e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
            As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
            provam apenas que a vida prossegue
            e nem todos se libertaram ainda.
            Alguns, achando bárbaro o espetáculo
            prefeririam (os delicados) morrer.
            Chegou um tempo em que não adianta morrer.
            Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
            A vida apenas, sem mistificação.

*foto da obra de Vik Muniz (Atlas)

                                                


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