Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

Eu não sou fraca, sou fraquíssima! (Adriana Moraes)


Eu cresci em meio a mulheres extremamente fortes. Fortes à sua maneira.
Entre minha mãe, minhas tias e as agregadas da família, vi mulheres que tomavam decisões, matavam leões, matavam e morriam diariamente.
Assisti essas mulheres defendendo suas crias de um estranho mundo que sempre foi cruel com elas mesmas.
Testemunhei, despercebida, as lutas diárias e insanas delas para ter pão na mesa, para ter educação para suas crias, para ter um teto sobre suas cabeças. Essa força nas mulheres que eu conheço é tão natural que nem chega a ser qualidade, é necessidade.
Essas mesmas mulheres, apesar da força, são machistas. Mas até isso me serviu de lição.
Aprendi que o machismo e a opressão que ele nos causa, vem em parte, de nós mesmas. Nós estabelecemos de algum modo, as relações de gênero, nós construímos também essa cultura.

Perdoei e perdoou o machismo das mulheres mais velhas da minha família. Mas acho inconcebível a cultura machista que é pregada diariamente, quase como um mantra nas redes sociais. Homens são “chave mestras”, mulheres são “putas”. Homens são “garanhões”, “pegadores”. Mulheres são “cachorras, galinhas, vacas, piranhas”, além de “piriguetes, vagabundas” ou qualquer coisa que o valha. E essa mesma cultura não é disseminada exclusivamente por homens não. As mulheres são vitimas e algozes ao mesmo tempo.
Hoje, não quero “parabenizar” minhas amigas. Hoje quero exigir o direito de ser quem eu quiser ser. O sagrado direito ao meu corpo. O sagrado direito de mostra-lo ou escondê-lo. De ter prazer. Quero o direito irrefutável de ser a vítima e não vilã em um ato violento.
Falo palavrão, falo alto, bebo,  uso maquiagem e reclamo do meu peso diariamente. Sou mãe feliz e ainda assim, desejo, às vezes, uma ilha deserta.
Nas homenagens que me renderam hoje, no dia internacional da mulher, não me reconheci em quase nenhuma delas. Visto que não tenho tantas virtudes. As virtudes que eu tenho são por eu ser humana, mas não por eu ser mulher (ainda assim obrigada pelas homenagens). O dia de hoje representa mais um dia de luta. Não luta contra homens, mas luta para sermos mulheres e pronto.

Entre panelas e volante, batom e retórica, esmaltes e tintas, gasolina e perfumes, ceras quentes e pelos, filhos, companheiros e colegas de trabalho, livros e ferramentas, saliva e suor, sou Mulher fraca e forte. Sou humana.

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