Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacienñtes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

MINHA MULHER NÃO É FURACÃO (Fabrício Carpinejar)



Adriana Galvão - Foto: Emanuel Galvão

Você não é um furacão.
Trata-se de uma cilada masculina.

Não aceite ser nomeada desse jeito.

Representa um falso cumprimento.

Todo homem diz que a mulher é um furacão como projeção: é o que ele deseja da companhia, não é o que ela é.



Pode soar sedutor, pode sugerir passionalidade, pode sugerir fogo e charme, porém é uma armadilha.

Sua intenção não é boa.

Furacão não é convidado.

Furacão passa rápido.

Furacão é somente sexo.

Furacão é pressa.

Furacão não tem endereço, nem infância.

Furacão destrói lares, arrebenta relacionamentos.

Furacão não chora, não se arrepende de colecionar vítimas.

Furacão não pergunta duas vezes.

Furacão não volta, não cria raízes, não se despede.

Furacão é triste, solitário, assim como vulcão.

Furacão é vazio, repetitivo, rancoroso.

Furacão não deixa bilhetes, não tem recaídas.

Chamar uma mulher de furacão é uma forma machista de se expressar e impor brevidades amorosas.

Quando alguém lhe caracteriza de furacão, não está festejando sua vida.

Pretende usá-la e não se responsabilizar pelas consequências, busca explorar sua fugacidade, destacar sua intemperança, avisar que é fácil, que não pensa, que age por impulso, que não mede a força.

Furacão é carente, perdido, uma nuvem dançando seu sofrimento.

Furação deserda, não conquista.

Furacão devasta, não reúne.

Ninguém namora um furacão. Ninguém casa com um furacão.

Furacão é reduzir a mulher ao papel de amante, é considerá-la uma ameaça da intimidade, um rastro desorganizado e provisório.

A mulher que amo não é um furacão, e sim brisa, um sopro calmo que veio estudado das marés.

É a soma das ondas, o resto de estrelas, o cheiro casado das rochas e das conchas.

Não subestime a intensidade da insistência.

A brisa é mais contundente do que o furacão.

A brisa me faz virar o rosto, pressinto alguém chegando.

A brisa tem o peso exato de uma palavra no ouvido.

É vento, mas também é um chamado.

É vento, mas também é saudade.

É vento, mas também é música.

É espuma de vento, levemente úmido, meio água, meio ar.

Mulher minha não é furacão. Mulher minha é brisa.

E nunca será minha porque vento não se enjaula.

Teremos casa, filhos, pátio, varanda, e não cansaremos de contar como nos conhecemos.

Publicado no jornal Zero Hora 
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6 
Porto Alegre (RS), 14/04/2013 Edição N° 17402


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