Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

MINHA MULHER NÃO É FURACÃO (Fabrício Carpinejar)



Adriana Galvão - Foto: Emanuel Galvão

Você não é um furacão.
Trata-se de uma cilada masculina.

Não aceite ser nomeada desse jeito.

Representa um falso cumprimento.

Todo homem diz que a mulher é um furacão como projeção: é o que ele deseja da companhia, não é o que ela é.



Pode soar sedutor, pode sugerir passionalidade, pode sugerir fogo e charme, porém é uma armadilha.

Sua intenção não é boa.

Furacão não é convidado.

Furacão passa rápido.

Furacão é somente sexo.

Furacão é pressa.

Furacão não tem endereço, nem infância.

Furacão destrói lares, arrebenta relacionamentos.

Furacão não chora, não se arrepende de colecionar vítimas.

Furacão não pergunta duas vezes.

Furacão não volta, não cria raízes, não se despede.

Furacão é triste, solitário, assim como vulcão.

Furacão é vazio, repetitivo, rancoroso.

Furacão não deixa bilhetes, não tem recaídas.

Chamar uma mulher de furacão é uma forma machista de se expressar e impor brevidades amorosas.

Quando alguém lhe caracteriza de furacão, não está festejando sua vida.

Pretende usá-la e não se responsabilizar pelas consequências, busca explorar sua fugacidade, destacar sua intemperança, avisar que é fácil, que não pensa, que age por impulso, que não mede a força.

Furacão é carente, perdido, uma nuvem dançando seu sofrimento.

Furação deserda, não conquista.

Furacão devasta, não reúne.

Ninguém namora um furacão. Ninguém casa com um furacão.

Furacão é reduzir a mulher ao papel de amante, é considerá-la uma ameaça da intimidade, um rastro desorganizado e provisório.

A mulher que amo não é um furacão, e sim brisa, um sopro calmo que veio estudado das marés.

É a soma das ondas, o resto de estrelas, o cheiro casado das rochas e das conchas.

Não subestime a intensidade da insistência.

A brisa é mais contundente do que o furacão.

A brisa me faz virar o rosto, pressinto alguém chegando.

A brisa tem o peso exato de uma palavra no ouvido.

É vento, mas também é um chamado.

É vento, mas também é saudade.

É vento, mas também é música.

É espuma de vento, levemente úmido, meio água, meio ar.

Mulher minha não é furacão. Mulher minha é brisa.

E nunca será minha porque vento não se enjaula.

Teremos casa, filhos, pátio, varanda, e não cansaremos de contar como nos conhecemos.

Publicado no jornal Zero Hora 
Coluna semanal, Revista Donna, p. 6 
Porto Alegre (RS), 14/04/2013 Edição N° 17402


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