Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Preparação da Manhã (Gonzaga Leão)



É duro dizer, criança
filho do triste operário
do sofrido camponês
que em vez dos belos brinquedos
que te fariam feliz,
dar-te-ei canhões fuzis
e a noite feita de medo;
contar-te-ei em segredo
(não histórias pra dormir)
que neste imenso país
somente o rico é feliz
só o rico tem porvir;
e contar-te-ei também
que o pão que falta em teu prato
sobra no prato de alguém;
que tua roupa nenhuma
não mais serve a quem a tem.

Mas direi no entanto a ti
(rudemente enquanto falo)
que nessa estrada de agora
não muito distante a aurora
já avia seus cavalos
com seu jaezes de fogo
e ardentes ferros nos cascos
com sua fonte de sol
a celebrar-se nos olhos,
que deixarão claridades
de manhãs onde passarem:
- e não haverá mais sede
boca não dessendentada
rios que não tenham ponte
de paz e fraternidade.

E no chão de todo o mundo
transformado em bem comum
rebentarão as sementes
e o pão será permanente
na mesa de qualquer um.

Maceió/Alagoas - Fevereiro de 1963.

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