O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Mulher Negra - Consciência Negra É Consciência Humana - (Adriana Moraes)

Foto: Emanuel Galvão

Sou uma mulher negra! Pra elaborar essa sentença foram necessários muitos anos, até eu tomar consciência do que sou e ainda um pouco mais de tempo para ter orgulho disso.
Fácil dizer que consciência negra não é necessária e sim, consciência humana. Mentira! É fundamental ter consciência negra e ter orgulho, sobretudo. Quem fala isso nunca viu uma criança negra na escola pública respondendo a um questionário, se dizendo branca. Ou mesmo uma garota negra que fotografou sua “marquinha do biquíni” para provar que não é negra. Ou ainda, perceber uma criança negra, aceitar ser chamada de moreninha, mulata (mulato=cor de mula), parda... só pra ser aceita numa sociedade mestiça, mas que ainda não largou os costumes escravocratas.

Não existe consciência humana quando são os meus irmãos negros que apanham da polícia, que servem às mesas, que cortam cana, e que são estereotipados como ladrões, traficantes, estupradores, desocupados, vagabundos, favelados... Ou mesmo minhas irmãs negras que limpam as latrinas e a bunda dos filhos das pessoas que exigem consciência humana.
Sou uma mulher negra, de cabelos crespos, de nariz largo e de língua muito afiada. Consciência humana só quando todos forem humanos. Quero ter e disseminar minha consciência negra. Quero toda minha gente mudando sua história cheia de orgulho. Caminhando para frente, mas sempre olhando para trás.


Adriana Moraes – Mulher Negra 





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