Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

DOS EXCLUIDOS (Emanuel Galvão)



Oh pátria minha! Mãe gentil
Teu filho pede esmola
Pede escola
Pede pão
Que voz horrível é essa?
Será vossa?
A voz que me diz...
Não.


Oh pátria minha! Mãe gentil... pariste.
Pra quê?
Teu filho que não foge à luta!
Porque não ouves meu brado retumbante?
Acaso sou eu filho da... Outra?

Oh pátria minha e tão distante dos meus sonhos
Mãe que me pariste.
Pra quê?
Para deixar-me só e triste?
Não é a ti que me oponho...

Teus donos, teus amantes.
Vindo de terras tão distantes
Deitar em teu berço esplêndido
Sugar com força tuas tetas
- palavras doces, frases belas, mutretas –

Oh Pátria minha, mãe! Comeste?
Pois que teu filho passa fome.
Mas, se ergue da justiça à clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Mesmo que entregue à própria sorte
É filho teu... e não da... Outra.

Oh Pátria amada, idolatrada.
Salve, salve...
Enquanto há tempo.
Porque a paz tá no futuro
E tua glória no passado
E o discurso dos que finge que te amam...
Ultrapassado.
Se o teu futuro espelha esta grandeza
Volta tua face à pobreza
Terra adorada
Não vez que mascarada é a face da nobreza
Que gasta tua riqueza com prostituta
Mandando para fora teu bem mais precioso
Deixando à margem os sonhos do teu povo.

Se o teu futuro espelha essa grandeza
E o teu presente é dúvida e incerteza
Olha pra quem trabalha e não foge à luta
A quem é filho teu e não da... Outra.
Embriagado eternamente em beco esplêndido
Ao som da barriga a reclamar
E o sono profundo...
Da inércia.
Fulguras oh mãe gentil
Porão da América
Iludindo sem piedade a todo mundo.

O meu amor por ti, me faz seguir adiante.
E é por amor que o coração diz: cante
É por saber-me vencedor, mesmo vencido.
Que ergo da injustiça com voz forte
Falando pelos meus pares excluídos
Um brado que ecoe retumbante.

(Emanuel Galvão - Livro Flor Atrevida - Quadrioffice/2007)

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