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Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

A Quatro (Remo Sales)

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Uma folha A4 Quantos caracteres cabem aqui dentro? Será que alguém já pensou nisso? Quantos pensamentos cabem aqui, Neste espaço limitado? Pensamentos são limitados? Não, com certeza não. Gostaria de poder registrá-los Tão logo eles surgissem, Frutificassem. Usar um espaço tão limitado Como esse A4 Tem de ser bem ponderado. De outro modo, Escrever, escrever, escrever Sem ter nada para dizer É melhor emudecer. O silêncio também pode dizer muito, Isso é o que dizem por aí. Se assim o fosse uma folha em branco Seria um belo texto. A candura de uma folha Sem nenhum outro contraste Pode sim ser sinônimo de excesso. Excesso de falta de pensamentos, de palavras Ou de tempo. Copyright © 2018 by Remo Sales All rights reserved.

Oxigénio (Emanuel Galvão)

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Amada, te quero muito bem... Eu sei que sabes! Mas, quero ser como a brisa em dias de verão... - um sopro que se repete como compulsão -. Nos dias frios... também se repetir. Ser como as cobertas que puxas cada vez mais para perto de ti. E por fim... Nos dias amemos, destes mais ou menos, esses que nem notas que existo... ser oxigénio... por saber que não vives sem mim. Copyright © 2018 by Emanuel Galvão All rights reserved.

Ars Poética (Paulo Sabino)

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marcar o papel a palavra fogo coisa que queime, que permita combustão rasgar a folha a metáfora faca coisa que corte, que sangre emoção lamber a linha a imagem língua coisa que arrepie, que concentre tesão molhar o branco a figura água coisa que inunde, que contemple imensidão

Fanatismo (Florbela Espanca)

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Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver. Não és sequer razão do meu viver Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo, meu Amor, a ler No mist'rioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida!... "Tudo no mundo é frágil, tudo passa... Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: "Ah! podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim!..." Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

Reinauguração (Carlos Drummond de Andrade)

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Entre o gasto dezembro e o florido janeiro, entre a desmistificação e a expectativa, tornamos a acreditar, a ser bons meninos, e como bons meninos reclamamos a graça dos presentes coloridos. Nessa idade - velho ou moço - pouco importa. Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza, a exata beleza que vem dos gestos espontâneos e do profundo instinto de subsistir enquanto as coisas em redor se derretem e somem como nuvens errantes no universo estável. Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos. Esta é a magia do tempo. Esta é a colheita particular que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante, no acreditar na vida e na doação de vivê-la em perpétua procura e perpétua criação. E já não somos apenas finitos e sós. Somos uma fraternidade, um território, um país que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro e desenvolve na ...