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"A minha avó dizia-me
que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era
entrançar o seu cabelo; de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não
pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não
entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom
deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas
que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode
deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do
sabor amargo.
Quando te sintas triste
menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa
escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo
é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave
como a espuma do atole.
Que não te apanhe
desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou
os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o
teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua
traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua
tristeza.
E na manhã ao acordar com
o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o
trançar dos teus cabelos…"
*Registro da antropóloga
Paola Klug, Fotografia tirada na Nicarágua por Candelaria Rivera, do ensaio
fotográfico: "Amor de Campo"
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