Vida Subjuntiva (Emanuel Galvão)

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Foto: Eduardo Matysiak / Futurapress / Folhapress E se essa rua fosse minha E se a gente brincasse E se a bola ninguém furasse E se nossa trave seu João não chutasse Se na pistola ninguém pegasse Se o policial no menino preto não atirasse   Se essa rua fosse minha E nela ninguém mandasse Parar, quando a gente passasse E os documentos mostrasse E nossa mão se levantasse E nossa voz não calasse   Se essa rua fosse minha E a gente se rebelasse Entendendo a luta de classe E da política analisasse Sua cruel e podre face E acabasse o disfarce Atacando quem atacasse A gente multiplicasse E por força desse repasse Toda opressão cessasse   E se essa rua fosse minha Não tua! Eu não morava na rua Eu não dormia na praça Não mostrava a pele nua Não vestia a minha desgraça   Ah! se você entendesse Se você percebesse Se se compadecesse E intercedesse E retrocedesse   Talvez meu mundo Não fosse tão im...

SOBRE O ANO NOVO (OU O PRÓXIMO DIA)

Agencia Alagoas

La fora o sol já me sorria
E o barulho dos carros e o despertador
Convidando-me ao trabalho, confirmaria
Que se tratava do segundo dia

Ao terminar os lances da escadaria
Chegando ao final do corredor
Meu vizinho ranzinza me reafirmaria
Que era mesmo o segundo dia

Apenas tendo deixado a portaria
Já escuto o barulho estridor
Do motorista com sua antipatia
Buzinando: é o segundo dia!

E no emprego já me aperceberia
Do peso hereditário do trabalhador
Envolvido com toda aquela burocracia
Intimando-me ao ofício do segundo dia

Logo mais em casa, onde descansaria
Do fardo do meu entediante labor
Minha amada, aborrecida, me receberia
Confirmando de vez que era o segundo dia

E o noticiário, recorrente informaria
Os horrores do mundo em meu televisor
Percebam, vejam que estranha ironia
Já não se falava de esperança no segundo dia

Parecia que nada mais me surpreenderia...
Onde fora parar a fraternidade e o amor
Os sonhos, o brilho nos olhos, a euforia
Que parecia tão distante no segundo dia?

Lembrei-me então de todas as alegrias
Dos abraços, do champanhe, do esplendor
Das luzes e toda aquela pirotecnia
Que antecederiam todos os outros dias

Pois que um ano se edifica com sabedoria
Nos detalhes, dia a dia, com afã de construtor.
Apesar de, embora que... Levante-se, tente, sorria...
Que esse é apenas o segundo dia

Sem métrica, sem pretensão da poesia.
Caneta, ideia, papel... Sou escritor.
Vejamos! O que mais me caberia?
Senão escrever, o próximo dia.

Copyright © 2012 by Emanuel Galvão
All rights reserved.

Comentários

  1. Admiro as suas poesias.Tem de vir de uma pessoa sensível e inteligente. Parabéns poeta!

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