Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Musa (Mírian Monte)




É o decote da tua blusa
Que não mostra, insinua;
Que desperta o desejo
De ter ver inteira nua.
São as covas dos teus risos,
Que brotam em lábios indecisos,
E se entreabrem levemente,
Ora prometem beijos quentes
E, de vez em quando, orgulhos ferem,
Com as palavras que proferem,
Cordiais, indiferentes.
É o olhar inquietante,
Que as almas dilacera,
Que acorda a quieta fera,
Por mesmice adormecida
E que a torna decidida
A abrir suas cortinas,
A lançar-se em aventura,
A rasgar o tal decote,
Que não mostra: insinua;
Que revela as fraquezas,
Da moralidade imposta;
Que coloca à toda prova,
Os costumes, a cultura.
É caminho feminino,
De curvas acentuadas,
Muito pouco advertidas,
Numa pele tatuada.
É a tez despreocupada,
Mesmo quando te acusam,
Mesmo quando te profanam,
Mesmo quando te torturam.
É a dúbia identidade:
Ora fada, ora bruxa,
Ora ninfa, ora musa,
Que o teu andar oculta;
É o decote da tua blusa,
Que não mostra, insinua,
Que desperta o desejo
De ter ver inteira nua.

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