O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Disparate (Paulo Miranda Barreto)



(Amor Danado)

Se for pedir demais, Deus . . . me perdoe!
Mas, quero um grande amor desassombrado!
Assaz libidinoso e doido e ousado!
Que me oriente enquanto me atordoe. . .

Que ame amar demais e amaldiçoe
o ódio, o tédio, o medo , os versos xoxos. . .
Que adore dar prazer . . .  e sempre doe
abraços apertados, risos frouxos. . .

Que nunca fique ausente do meu lado. . .
Delire a ler . . . a ouvir David Bowie
e vá comigo aonde quer que eu voe
(e soe bem . . .  até desafinado)!

Que seja eterno enquanto dure o fado. . .
E enquanto o infinito for infindo
E enquanto houver amor no mundo irado. . .
Agora . . . e nos futuros que estão vindo. . .

Eu quero um grande amor exagerado. . .
Que gere inquietude e me arrebate
Que enxergue uma virtude em meu pecado
e que amiúde, coma chocolate. . .

Que me condene a sempre ser amado
(até depois que a vida enfim nos mate)
Quero um amor assim . . .  ‘Amor danado’!
Perdão Senhor . . . se for um disparate.

*Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons
 - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

Poema publicado na Antologia ‘DELÍCIA’, Organizada pela Oficina
 de Literatura Cairo Trindade, no Rio de Janeiro em julho deste ano (2017)
 Editora Personal.

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