Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Passei Uns Dias Sentindo Um Calor (Elaine Cristina dos Santos Lima)

 


Passei uns dias sentindo um calor.

Calor que surgiu na minha epiderme e se infundiu até a camada mais profunda da minha alma.

Um calor desses que só pode surgir na pele porque necessita de estímulos sensuais, dos sentidos e da carne. Aliás, como toda emoção.

A sensualidade é fundamental. Gosto de ouvir, de tocar, de ver e gosto que sintam em mim.

A cada movimento da vida se apresenta uma possibilidade de experimentar o inusitado. Muitas vezes desafiando o espaço e o tempo e sempre desafiando o tradicional. Embora, não seja fácil e nem óbvio entender. Mas, eu me esforço.

A vida não deixa de ser um labirinto explosivo de sensações que nos exige atenção e entrega. Eu me entrego. Não me entrego numa cega submissão a um destino dito predeterminado e sim, me entrego, numa escolha racional e emocional posta como possível.

É uma vida ardente de explosões sentimentais que quero e vivo sempre que o momento me aparece. Esses dias de calor me pareceu um desses momentos. Fiquei a escutar meus pensamentos que retumbavam incessantes minhas fantasias.

E como sou criativa!

É até difícil colocar no papel o que penso.

Mais fácil seria viver. Embora, viver seja tão difícil.

Nesses dias de calor o sol nem estava tão próximo. Não aquele que identificamos enquanto a estrela central do nosso sistema solar. Mas, havia um sol próximo. Seria impossível queimar tanto a pele se não houvesse.

Um sol em forma de gente.

Desses que tem pernas, cabelo, tronco, mãos, cabeça e talento. Sempre acompanhei de longe como uma impossibilidade. Mas, agora que está perto, reafirmando o inusitado da vida, me queima ardentemente. Claro que perto é apenas uma expressão, na falta de outra mais apropriada para inserir nesse texto agora, uma vez que sentir também desafia o espaço.

Um dos pensamentos que me ocupavam a mente e quase não deixava espaço pra pensamentos de outra ordem é o dos lábios.

Sim. Lábios. Adoro lábios. Quase sempre vulgarizados como premissa obrigatória para se começar qualquer emoção. Mas, lhe retiro a obrigação e lhe confiro a liberdade. Por isso, não penso os lábios como um início, mas como um partícipe voluntário que pode ocorrer a qualquer hora e inclusive não ocorrer.

Ai os lábios!!! Com sua presença úmida que parece mais quente que meu corpo queimando.

Lábios que deslizante dos pés à cabeça me deixa em frenesi.

Lábios que tem seu ápice no percurso corporal ao tocar os lugares ocultos e proibidos e nos faz transformar a fala, sempre por mim, tão desejada, em sussurros indecifráveis. A fala também precisa do movimento dos lábios. Ai!!

Os lábios e seu movimento são sempre desejáveis. Aquele movimento que exprime deliciosas torturas linguísticas ditas apenas em momentos de tensão corporal quando o sangue está correndo mais rapidamente em suas veias e o coração parece que vai saltar do corpo descontrolado. Mas, não se trata de qualquer dito sem sentido ou mesmo de qualquer discurso bem elaborado, chato e previsível. Palavras que expressam aquele corpo incontido e todo o seu desejo mais transgressor. Tudo ao pé do ouvido de quem estiver pra ouvir. Muitas vozes, lábios e corpos se estreitando entre si.

Sou dada a imaginação. O tempo inteiro ideias não deixam em paz nem minha alma e nem meu corpo, por isso, queimo. Resposta ao sol em forma de gente que me estimulou tão fortemente.

Já que só podia imaginar, não conseguia controlar minha imaginação.

Talento é algo que me atrai. Não um talento mesquinho que revela um egocentrismo vaidoso. Mas, um talento que se expressa numa forma de vida não convencional. Esse talento é a minha serpente do Éden desprovida de todo o pecado. Me hipnotiza com facilidade porque me oferece o inesperado. E eu quero. Sempre quero.

Passei uns dias sentindo um calor. Tomei banho mais vezes. Mas, toda vez que as gotículas de água se uniam impetuosamente no chuveiro e desciam banhando meu corpo, internamente, eu me aquecia mais. Minha pele está em erupção e mesmo a água que deveria apaziguar, evapora, e me parece um condutor de estímulo sensorial e emocional na ausência e na presença do sol em forma de gente.

Passei uns dias sentindo um calor que não passa!

No verão pandêmico de 2021.

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