Um Amor (Emanuel Galvão)

 

 

          Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado. 

          Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas. 

          São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é maestria do ser amado. Ele não se compromete com discursos longos, sua retórica é pão com manteiga, simples e do cotidiano, tão gostoso que passa despercebido. Que só é notado a por muitos, na ausência. 

          Esse preâmbulo todo é para contar a história de um amor na cama, no leito. Não seu frenesi de paixão ou seu avassalador contexto e, sim, a pretexto de dizer: quem ama, não sai de cena de qualquer jeito. 

          O poeta, cantor e compositor, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes já dizia: 

"Meu bem (...)
Mas quando você me amar
Me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu poder ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro ver e saber que eu te amo!"

          O leito da cena de amor se passa em um hospital. Um cena de desmaio que fará qualquer um, passar mal, desfalecer de vontade de amar assim. Pois foi passando mal, que o amante dessa história, com sua companheira e amada do lado, ainda soube ser empático. E empatia não é se colocar no lugar do outro, é respeitar a dor do outro. 

          Ele soube, em sendo  paciente, ser paciente ao ser interpelado pelo doutor,  que buscava diagnosticar o ocorrido:

‐‐ Você tem algo no coração?

Sem a pretensão de ser poeta e ignorando sua dor, ele respondeu:

‐-Tenho sim doutor, eu tenho um amor!


Maceió, 24 de abril de 2024

Minha primeira crônica dedico

à Adelma e Pedro (ln memoriam)


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