O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Não Há Elogio Maior Que o Desejo (Felipe Machado)



Não há elogio maior do que desejar alguém. Há adjetivos que podem simular o desejo, há qualidades que podem ser destacadas em uma frase simpática ou sensual inserida no meio do diálogo rotineiro. Mas o desejo, mesmo, aquele que move montanhas e inspira loucuras, esse só se diz com o com os olhos. Ou com o corpo.

(Não é à toa que em inglês ‘desire’ (desejo) rima com fire (fogo), assim como não é à toa que em português rima com ‘beijo’…)

A Wikipedia define desejo como “uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação”. Mas é sério que alguém acha que é possível expressar o desejo em palavras? Eu seria mais pragmático. Desejo é querer muito, muito, muito… alguém.

Há muitas maneiras de encarar o desejo. Há o desejo material, aquele que busca satisfazer nossas necessidades consumistas. Há o desejo espiritual, a vontade de encontrar um equilíbrio utópico entre as forças que regem a existência. Há o desejo por justiça – ou vingança -, que suscita no ser humano os sentimentos mais primitivos. Mas o desejo por alguém é o mais poderoso de todos, porque tem como finalidade o sentimento mais poderoso de todos… o amor.

Se o amor é o que move um homem e uma mulher a ficarem juntos, então só posso supor que o desejo é o instrumento que a natureza inventou para atingir seu objetivo. Sábia natureza, que colocou o prazer como anzol no oceano de peixes que é a sociedade.

Como falei no início, não há elogio maior que desejar alguém. Querer que essa pessoa faça parte da sua vida, dia e noite (principalmente à noite, se é que você me entende), por um tempo indeterminado, é uma das forças que movem o mundo.

Em ‘Um Bonde Chamado Desejo’, filme baseado na peça de Tennessee Williams, a personagem de Vivien Leigh, Blanche DuBois, sussurra entre uma desilusão e outra: “Eu não quero realismo… eu quero mágica…” Embora a história tenha mesmo um bonde chamado ‘Desejo’, acho que essa frase guarda em sua simplicidade tudo o que o dramaturgo quis nos dizer sobre o desejo e o que ele representa.

A vida é feita de realidade, mas não é isso que inspira os nossos sonhos. É a mágica de sentir por outra pessoa o mesmo desejo que queremos que ela sinta por nós. Descobrir o que está por trás disso é um mistério, mas enquanto existir ar em nossos pulmões, sangue em nossas veias e fogo em nossos corações, é um desafio que faz qualquer um acordar pela manhã e dizer para si mesmo: ‘É hoje!’




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