MEUS ESTIMADOS AMIGOS - DIA DO POETA (Emanuel Galvão)

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Para começar a semana Visitei meu amigo Mário Refiro-me ao Quintana E para meu poema  ficar danado de bom Parceria com Drummond Para ele não conter vícios Parceria com Vinicius E ser amigo do rei Nessa grande brincadeira Acompanhei Manuel Bandeira Também entre as pedras Cresceu minha poesia Cresceu com essa menina Grande Cora Coralina Poesia não precisa de motivo Basta ler em Ledo Ivo Quero iluminar de cima Acendendo lampiões Como fez Jorge de Lima Fazer um poema elegante Sofisticado, bacana Como faz o Afonso O Romano de Sant’anna Fazer poesia que arde Como faz Bruna Lombardi Não escrever coisa atoa Como fez Fernado Pessoa Fazer veros de quilate Como o Olavo Bilac Poema que seja casa Grande como uma mansão Como ergueu Gonzaga Leão Poema de morte e vida Severina vida sem teto Trabalhar no mesmo tema Faze grande o meu poema Como João Cabral de melo Neto Poema que a boca escarra E que escreve com a mão Que afaga e apedreja Sem flores e seus arranjos Como fez Augusto dos Anjos E na Can...

Minha Rua Não Tem Palmeiras (Jarbas Siebiger)



Minha rua é socialista. Quando chove, há barro para todos. Lá, a democracia é totalitária. Quiseram calçá-la, base de rateio. Uns poucos declinaram, continuou crua. Ideologicamente, prefiro. Seria brindar incapacidades.

Na minha rua, economia imita globalização e autossustentabilidade. Tem Paulinho, que apara mato, colore grade, maquia muro. Iara pergunta hora e cronometra salgado quente aos aniversários. Caia fundo de churrasqueira, Rogério improvisará lata. Puxadinho é com o Gérson: cerveja servida, barateia mão-de-obra, afina acabamento. Coelho limpa carburador, põe ponto ao motor. Depois, divide birita e costela. Compradas com os caraminguás do socorro. A mulher lava pra vizinha defronte. Sem pudor, nem preconceito. Necessidade. Nem a coleta do lixo é discriminada. Mesmo assim, garrafas vão separadas. Retornam com detergente. Feito por lá. Procedência se conhece, nota faltará. Política, a rua dispensa: Estado não cumpre, não interfira.

Rua minha é solidária. Kombi de Paulo faz ambulância e mula. Viajar é deixar chave-da-casa com vizinho. Pátio assume estacionamento alternativo: guarda carro de garagem reformada, de genro fugindo do sogro e do filho que empreendeu picaretear. A Titica é de todos e de ninguém. Só ameaça, não crava. Acostumou-se ao relento, renega abrigo. Vigia o pedaço e acua jaguara que se atreva. A rua lhe dá sustento.

Quem não mais comparece é chimarrão-beira-de-calçada do Valmir. Morreu, povo da rua enterrou. Não me animo substituí-lo. Faço, então, só distribuir limões-bergamota. Que se dão às pencas. Declaro parte nesse quinhão que nem é posse.

Minha rua não tem palmeiras. Mas, na hora do Angelus, piam aves-marias.


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