Postagens

Mostrando postagens de março, 2018

O Beijo (Elsa Moreno)

Imagem
O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

Folhas Mortas (Arnoldo Wiecheteck)

Imagem
Desprende-se uma folha amarelada, Logo outra lhe sucede e outras mais, Na calma de uma tarde acizentada, Como suspiros, lágrimas e áis. Folhas mortas, que tombam nas estradas, Na balada dos ritmos estivais, Levadas pelos ventos, em derrocada, Rolam, bailam, voam em espirais. Também sou como a folha desprendida, Rolando pelo outono dessa vida, Vagando com meu sonho já incolor. Caí numa alameda sossegada, Num êxtase de uma noite enluarada, Entre um beijo e uma lágrima de amor.

Ciclo da Vida (Lys Carvalho)

Imagem
Não tenho mais memória para lembrar palavras, músicas, datas e receitas, mas tenho um calor na alma, que abastece meu coração de ternura, amizade e muito amor. Já não tenho idade para correr, mas firmo, bem devagar, cada passo, no compasso da vida, contando e relembrando a pressa de um passado, no qual somos como frutas (frescas e viçosas). Não tenho mais a firmeza das mãos para escrever todas as lembranças de um passado que ainda vivo, mas, lembrar revigora a alma e o coração, para continuar a viver. Não tenho mais velhos e queridos amigos, mas tenho a felicidade de conquistar novos, reciclando meus conhecimentos e valorizações, tornando-me mais receptiva à vida. Não tenho mais pai, mãe, irmão, tias e tios, mas tenho guardado seus rostos e suas marcantes presenças, nos lindos momentos de minha vida. No ciclo da vida, somos como as nuvens que vão passando... e formando vários cenários, até que se dissolvem no céu. Hoje, as rugas (que marcam minha face) nada r...

Derradeiro ‘AU REVOIR’ (Paulo Miranda Barreto)

Imagem
No dia em que os anjos caírem em si (algum tempo antes de Jesus voltar) já haverei de estar com Salvador Dali a ler Baudelaire nos jardins de Alá. . . Não há inferno aqui . . .  nem acolá! E ‘fogo eterno’ é o meu (anote aí)! No Além, sei muito bem que mal não há E eu lá, só vou colher o que escolhi. . . Do amor que dei dos versos que escrevi da paz que semeei .  . . farei um chá e brindarei á tudo o que vivi junto dos meus (e Deus nos louvará) De quem ficar não sei o que será. . . Talvez o mundo acabe em frenesi. . . Quem sabe continue como está. . . Ou mude pra melhor (como eu previ)! Só sei que nada sei . . .  mas, e daí? Se um dia saberei . . .  quem saberá? Quem sabe eu já sabia e me esqueci. . . (Acho que eu sempre soube) . . . E quem dirá se era verdade tudo o que  menti  se era mentira o que  fingi jurar ou se o que  não jurei e nem fingi  alguém jurou, fingiu no meu lugar? Os erros (que jamais admiti)...