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Mostrando postagens de dezembro, 2017

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Feliz Ano Todo! (Emanuel Galvão)

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Escolha uma definição de felicidade. Se tu tens em mãos a matéria prima Erga como se ergue uma cidade. Então nela, fielmente imprima: Tuas mais razoáveis necessidades. Apesar das dificuldades, não se deprima. Muito além, do fútil e das vaidades, Ou de qualquer possível autoestima. Qualquer força, que nos destina: Crenças, ordens, leis ou verdades, Para além das superestimas Ou mesmo das cruéis realidades. Escolha uma definição de Felicidade. Felicidade permanente é um engodo Imposta pelos credos e a sociedade... Felicidade sempre e não o tempo todo! Copyright © 2017 by Emanuel Galvão All rights reserved.

O Tempo (Roberto Pompeu de Toledo)

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Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Outro Natal (Paulo Miranda Barreto)

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outro Natal se passou igual a outros iguais. . . ’Jesus nasceu, sofreu, ressuscitou deixou-nos sua Luz . . . não voltou mais’ faz muito tempo . . . e, o que se transformou? ainda guerreamos . . . pela paz . . . não nos amamos mais do que Ele amou . . . seguimos egoístas . . . imorais alheios às Lições que Ele ensinou. . . e cheios desse orgulho contumaz que o Cristo, claramente condenou . . . (por bem saber o mal que ele nos faz) em nossos corações . . . o que vingou? o amor de Deus? o fel de Satanás? após dois mil Natais . . . nada mudou (seguimos libertando . . . Barrabás). Este trabalho está licenciado com uma  Licença Creative Commons - Atribuição CompartilhaIgual 4.0 Internacional -. *Ilustração de Pawel Kuczynski

"Cinismo" (Emanuel Galvão)

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Dedicado a Walfrido Pedrosa de Amorim (Nô Pedrosa) Um sujeito oculto e culto Que fez de suas palavras uma hoploteca Tem seu escritório Em frente à biblioteca -Doutor da anarquia- Seu predicado maior Era não ter dominação ou hierarquia. Tu me acusarás Eu não obedeço Ele me prende Eu não obedeço Nós protestaremos Eu não obedeço Vós desejais Eu não obedeço Eles mandam Eu não obedeço - não é pessoal, é convicção - Talvez tenha em outro plano Planos para sua subversão! Copyright © 2017 by Emanuel Galvão All rights reserved. *07 de setembro de 1940 +23 de dezembro de 2017

Musa (Mírian Monte)

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É o decote da tua blusa Que não mostra, insinua; Que desperta o desejo De ter ver inteira nua. São as covas dos teus risos, Que brotam em lábios indecisos, E se entreabrem levemente, Ora prometem beijos quentes E, de vez em quando, orgulhos ferem, Com as palavras que proferem, Cordiais, indiferentes. É o olhar inquietante, Que as almas dilacera, Que acorda a quieta fera, Por mesmice adormecida E que a torna decidida A abrir suas cortinas, A lançar-se em aventura, A rasgar o tal decote, Que não mostra: insinua; Que revela as fraquezas, Da moralidade imposta; Que coloca à toda prova, Os costumes, a cultura. É caminho feminino, De curvas acentuadas, Muito pouco advertidas, Numa pele tatuada. É a tez despreocupada, Mesmo quando te acusam, Mesmo quando te profanam, Mesmo quando te torturam. É a dúbia identidade: Ora fada, ora bruxa, Ora ninfa, ora musa, Que o teu andar oculta; É o decote da tua blusa, Que não mostra, insinua, Que desperta o des

Disparate (Paulo Miranda Barreto)

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(Amor Danado) Se for pedir demais, Deus . . . me perdoe! Mas, quero um grande amor desassombrado! Assaz libidinoso e doido e ousado! Que me oriente enquanto me atordoe. . . Que ame amar demais e amaldiçoe o ódio, o tédio, o medo , os versos xoxos. . . Que adore dar prazer . . .  e sempre doe abraços apertados, risos frouxos. . . Que nunca fique ausente do meu lado. . . Delire a ler . . . a ouvir David Bowie e vá comigo aonde quer que eu voe (e soe bem . . .  até desafinado)! Que seja eterno enquanto dure o fado. . . E enquanto o infinito for infindo E enquanto houver amor no mundo irado. . . Agora . . . e nos futuros que estão vindo. . . Eu quero um grande amor exagerado. . . Que gere inquietude e me arrebate Que enxergue uma virtude em meu pecado e que amiúde, coma chocolate. . . Que me condene a sempre ser amado (até depois que a vida enfim nos mate) Quero um amor assim . . .  ‘Amor danado’! Perdão Senhor . . . se for um disparate. *Este trabalho e

Eu não gosto de você, Papai Noel!... (Aldemar Paiva)

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Eu não gosto de você, Papai Noel!  Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia. Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia. Você talvez nem se recorde mais. Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou. Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente. Chegou o sol e você não chegou. Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que me entregou com certa excitação. Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”. E se esquivou, contendo a emoção. Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês. Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas, meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez. O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade. Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu

Subversiva (Ferreira Gullar)

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A poesia Quando chega Não respeita nada. Nem pai nem mãe. Quando ela chega De qualquer de seus abismos Desconhece o Estado e a Sociedade Civil Infringe o Código de Águas Relincha Como puta Nova Em frente ao Palácio da Alvorada. E só depois Reconsidera: beija Nos olhos os que ganham mal Embala no colo Os que têm sede de felicidade E de justiça. E promete incendiar o país.

Não há Vagas (Ferreira Gullar)

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O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras - porque o poema, senhores,    está fechado:    "não há vagas" Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço     O poema, senhores,     não fede     nem cheira Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética' 

'Sobre Os Felizes' (Socorro Acioli)

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Existem pessoas admiráveis andando em passos firmes sobre a face da Terra. Grandes homens, grandes mulheres, sujeitos exemplares que superam toda desesperança. Tenho a sorte de conhecer vários deles, de ter muitos como amigos e costumo observar suas ações com dedicada atenção. Tento compreender como conseguem levar a vida de maneira tão superior à maioria, busco onde está o mistério, tento ler seus gestos e aprendo muito com eles. De tanto observar, consegui descobrir alguns pontos em comum entre todos e o que mais me impressiona é que são felizes. A felicidade, essa meta por vezes impossível, é parte deles, está intrínseco. Vivem um dia após o outro desfrutando de uma alegria genuína, leve, discreta, plantada na alma como uma árvore de raízes que força nenhuma consegue arrancar. Dos felizes que conheço, nenhum leva uma vida perfeita. Não são famosos. Nenhum é milionário, alguns vivem com muito pouco, inclusive. Nenhum tem saúde impecável, ou uma família sem pro