Vida Subjuntiva (Emanuel Galvão)

"Não há mais inocente,
tem esperto ao contrário".
Qualquer um pode ficar perturbado,
o além do além
não é lugar.
Mas onde há igualdade?
Bonito é o que se fez e o que se faz
de feio nessa "incivilização".
Não cale, enfie o seu palavrão
no fundo de uma canção,
porque no meio do poço
há luz, muita luz e osso.
"A chinela é minha comida"
A minha pobreza é nossa,
mas eu caio pra frente -
descalçada e sobrevivida.
Não sei nada de ambição,
às vezes, até o coração empenho,
noutras, ele é justo o que tenho
pra acolher tanta injustiça.
Ontem à noite fui à missa,
pediram: ninguém que se revolte!
Eu disse:
Nasci discordando da vida,
não devo um
centavo à morte!
*À Dona Estamira, que disse: "Eu não concordo com a vida e muito mais.
Dona Estamira, cujo nome de batismo
era Estamira Gomes de Sousa, foi uma senhora que viveu grande parte da sua
vida no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, como catadora
de lixo, e se tornou a protagonista de um premiado documentário brasileiro de
2004 sobre sua vida e sua luta. Com transtornos mentais, ela se destacava
por seu carisma, seu caráter maternal e sua lucidez em meio aos destratos
sociais que a marcaram, morrendo em 2011 aos 70 anos em consequência de uma
infecção generalizada.
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