Vida Subjuntiva (Emanuel Galvão)

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Foto: Eduardo Matysiak / Futurapress / Folhapress E se essa rua fosse minha E se a gente brincasse E se a bola ninguém furasse E se nossa trave seu João não chutasse Se na pistola ninguém pegasse Se o policial no menino preto não atirasse   Se essa rua fosse minha E nela ninguém mandasse Parar, quando a gente passasse E os documentos mostrasse E nossa mão se levantasse E nossa voz não calasse   Se essa rua fosse minha E a gente se rebelasse Entendendo a luta de classe E da política analisasse Sua cruel e podre face E acabasse o disfarce Atacando quem atacasse A gente multiplicasse E por força desse repasse Toda opressão cessasse   E se essa rua fosse minha Não tua! Eu não morava na rua Eu não dormia na praça Não mostrava a pele nua Não vestia a minha desgraça   Ah! se você entendesse Se você percebesse Se se compadecesse E intercedesse E retrocedesse   Talvez meu mundo Não fosse tão im...

ANTESSOCIAL (Isaac Souto)

 


"Não há mais inocente,

 tem esperto ao contrário".

 Qualquer um pode ficar perturbado,

 o além do além não é lugar.


Mas onde há igualdade?


Bonito é o que se fez e o que se faz

 de feio nessa "incivilização".

 Não cale, enfie o seu palavrão

 no fundo de uma canção,

 porque no meio do poço

 há luz, muita luz e osso.


"A chinela é minha comida"

 A minha pobreza é nossa,

 mas eu caio pra frente - descalçada e sobrevivida.

Não sei nada de ambição,

 às vezes, até o coração empenho,

 noutras, ele é justo o que tenho

 pra acolher tanta injustiça.


Ontem à noite fui à missa,

 pediram: ninguém que se revolte!

 Eu disse:

 Nasci discordando da vida,

 não devo um centavo à morte!


*À Dona Estamira, que disse: "Eu não concordo com a vida e muito mais.

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Dona Estamira, cujo nome de batismo era Estamira Gomes de Sousa, foi uma senhora que viveu grande parte da sua vida no aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, como catadora de lixo, e se tornou a protagonista de um premiado documentário brasileiro de 2004 sobre sua vida e sua luta. Com transtornos mentais, ela se destacava por seu carisma, seu caráter maternal e sua lucidez em meio aos destratos sociais que a marcaram, morrendo em 2011 aos 70 anos em consequência de uma infecção generalizada. 

@defensoriaemdiversidade




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