Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

Muitas Fugiam ao Me Ver… (Carolina Maria de Jesus)


Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

– Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”.
 (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy). 
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.


“A vida é igual um livro. 
Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.
 E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos
 como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta.
 Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”

– Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”.
 São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160.



Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o 
lançamento do seu primeiro livro, Quarto de Despejo. 
Publicado em agosto de 1960, a obra era uma reunião
de cerca de 20 diários escritos pela mulher negra, 
mãe solteira, pouco instruída e moradora da favela 
do Canindé (em São Paulo).

Quarto de Despejo foi um sucesso de vendas 
e de público porque lançou um olhar original 
da favela e sobre a favela.

Traduzido para treze idiomas, Carolina ganhou 
o mundo e e foi comentada por grandes nomes 
 da literatura brasileira como Manuel Bandeira, 
Raquel de Queiroz e Sérgio Milliet.

No Brasil, os exemplares de Quarto de 
Despejo alcançaram uma tiragem de mais 
de 100 mil livros vendidos em um ano.

Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura 

Veja mais em: CULTURA GENIAL

*14 de março de 1914 (Sacramento - MG)
+13 de fevereiro de 1977 (São Paulo - SP)




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