Minha Vó Maria Conga (Emanuel Galvão)

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 Minha vó Maria conga Sempre com um terço na mão Me ensinou uma oração Prá quebrar milonga Parecia uma canção Ela falava quimbunda Linguagem, lá da angola  Oração contra quebranto Trouxe com seu povo banto Pena que não se ensina na escola -“tu tens quebranto,  Dois te puseram, três hão de tirar.  De onde este mal veio  Para lá torne a voltar.  Mando embora esse quebranto Em nome das três pessoas da santíssima trindade  Que é o pai, o filho e o espírito santo. Lanço fora essa maldade  Ámem” “quem pode mais do que Deus?” - NIGUEM! Minha vó Maria conga me dizia: Quer de noite, quer de dia Tu “tem” um anjo, menino! Um exú, um anjo negro Que tem zelo e carinho Vai abrindo os teus caminhos Então reza! “santo anjo do senhor Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou A piedade divina, Sempre me rege, Sempre me guarde, Me governe Me ilumine, amém E quem pode mais do que deus? NINGUEM! Copyright © 2024 by Emanuel Galvão All rights reserved.

Literatura das Ruas (Sergio Vaz)



A literatura é dama triste que atravessa a rua sem olhar para os pedintes, famintos por conhecimento, que se amontoam nas calçadas frias da senzala moderna chamada periferia.
Frequenta os casarões, bibliotecas inacessíveis ao olho nu e prateleiras de livrarias que crianças não alcançam com os pés descalços.
Dentro do livro ou sob o cárcere do privilégio, ela se deita com Victor Hugo, mas não com os Miseráveis.
Beija a boca de Dante, mas não desce até o inferno.
Faz sexo com Cervantes e ri da cara do Quixote.
É triste, mas A rosa do povo não floresce no jardim plantado por Drummond.
Quanto a nós, Capitães da areia e amados por Jorge,
não restou outra alternativa a não ser criar o nosso próprio espaço para a morada da poesia.
Assim nasceu o sarau da Cooperifa.
Nasceu da mesma Emergência de Mário Quintana e antes que todos fossem embora pra Passárgada, transformamos o boteco do Zé Batidão num grande centro cultural.
Agora, todas às quartas-feiras, guerreiros e guerreiras de todos os lados e de todas as quebradas vem comungar o pão da sabedoria que é repartido em partes iguais, entre velhos e novos poetas sob a benção da comunidade.
Professores, metalúrgicos, donas de casa, taxistas, vigilantes, bancários, desempregados, aposentados, mecânicos, estudantes, jornalistas, advogados, entre outros, exercem a sua cidadania através da poesia.
Muita gente que nunca havia lido um livro, nunca tinha assistido uma peça de teatro, ou que nunca tinha feito um poema, começou, a partir desse instante, a se interessar por arte e cultura.
O sarau da cooperifa é nosso quilombo cultural.
A bússola que guia a nossa nau pela selva escura da mediocridade.
Somos o grito de um povo que se recusa a andar de cabeça baixa e se prostar de joelhos.
Somos O poema sujo de Ferreira Gullar.
Somos o Rastilho da pólvora.
Somos Um punhado de ossos, de Ivan Junqueira Tecendo a manhã de João Cabral de Melo Neto.
Neste instante, neste país cheio de Machados se achando serra elétrica, nós somos a poesia.
Essa árvore de raízes profundas regada com a água que o povo lava o rosto depois do trabalho.

"do livro "Literatura, pao e poesia" Global Editora (2010)

*“Raimundo Arruda Sobrinho era sem-teto em São Paulo, Brasil, por quase 35 anos, e tornou-se conhecido localmente por sentar-se no mesmo local e escrever ..."

 
*Sergio vaz no sarau da Cooperifa.

Veja a entrevista do poeta aqui:

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