Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

Imagem
Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Acordo Cordel (Emanuel Galvão)




Se não podes julgar-me com equidade
Se pensas que nasci com a maldade
Negando-me teus braços ou tuas praças
Se o que tens para mim são ameaças
Se só sabes apontar-me o meu mal
Reduzindo a maior idade penal
Dezesseis, quinze, talvez dez
-O melhor não seria a educação?
Se não pode socorrer-me com tuas mãos
Por favor não me pise com teus pés!

Se erguer minha voz é mimimi
É porque não estás disposto a ouvir
Nosso grito abafado e secular
E a teu ponto de vista macular
Essa mãe, essa filha, irmã, amiga
“Que por vezes fala, mas não briga”
 Nossa voz é medida em decibéis?
-“As mulheres a honrosa submissão”!
Se não podes socorrer-me com tuas mãos
Por favor não me pise com teus pés!

Tu discutes, da minha pele o tom
Se é preta, parda ou marrom
E o mais claro é claro te apetece
Não discutes, claro, o que acontece
Do velado, costumeiro preconceito
Que coloca na cor da pele o defeito
E a rica discursão, num plano rés
-Eu sou de negra pigmentação!
Se não podes socorrer-me com tuas mãos
Por favor não me pise com teus pés!

Eu não vim a esse mundo fazer gênero
Mas não sou moldado ou cisgênero
Sou o que sou e o ser que sinto
Sinto muito ter de ser sucinto
Mas a vida tem nos sido breve
Não contempla ou não descreve
A complexa razão desse viés
-Ser diferente não é uma opção!
Se não podes socorrer-me com tuas mãos
Por favor não me pise com teus pés!

Veja se você não é um inocente útil
Que repete um discurso vil e fútil
Nas escolas, nas esquinas, na política
Melhor ter uma opinião analítica
Onde o amor, a justiça e a ética
Façam parte dessa dialética
Revelando de fato quem tú és
- Diante do humano, a compaixão!
Se não podes socorrer-me com tuas mãos
Por favor não me pise com teus pés!



Copyright © 2017 by Emanuel Galvão
All rights reserved.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BORBOLETAS (Mario Quintana)

Essa Negra Fulô (Jorge de Lima)

A Reunião dos Bichos (Antônio Francisco)

TERCETOS (Olavo Bilac)

Se Voltares (Rogaciano Leite)

Eu Te Desejo (Flávia Wenceslau)