Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia
Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto
Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.
– Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”.
(Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).
Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
“A vida é igual um livro.
Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.
E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos
como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta.
Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”
– Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”.
São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160.
Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o
lançamento do seu primeiro livro, Quarto de Despejo.
Publicado em agosto de 1960, a obra era uma reunião
de cerca de 20 diários escritos pela mulher negra,
mãe solteira, pouco instruída e moradora da favela
do Canindé (em São Paulo).
Quarto de Despejo foi um sucesso de vendas
e de público porque lançou um olhar original
da favela e sobre a favela.
Traduzido para treze idiomas, Carolina ganhou
o mundo e e foi comentada por grandes nomes
da literatura brasileira como Manuel Bandeira,
Raquel de Queiroz e Sérgio Milliet.
No Brasil, os exemplares de Quarto de
Despejo alcançaram uma tiragem de mais
de 100 mil livros vendidos em um ano.
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
*14 de março de 1914 (Sacramento - MG)
+13 de fevereiro de 1977 (São Paulo - SP)
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