Vida Subjuntiva (Emanuel Galvão)

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Foto: Eduardo Matysiak / Futurapress / Folhapress E se essa rua fosse minha E se a gente brincasse E se a bola ninguém furasse E se nossa trave seu João não chutasse Se na pistola ninguém pegasse Se o policial no menino preto não atirasse   Se essa rua fosse minha E nela ninguém mandasse Parar, quando a gente passasse E os documentos mostrasse E nossa mão se levantasse E nossa voz não calasse   Se essa rua fosse minha E a gente se rebelasse Entendendo a luta de classe E da política analisasse Sua cruel e podre face E acabasse o disfarce Atacando quem atacasse A gente multiplicasse E por força desse repasse Toda opressão cessasse   E se essa rua fosse minha Não tua! Eu não morava na rua Eu não dormia na praça Não mostrava a pele nua Não vestia a minha desgraça   Ah! se você entendesse Se você percebesse Se se compadecesse E intercedesse E retrocedesse   Talvez meu mundo Não fosse tão im...

À PRETEXTO (Juliano Beck de Oliveira)



“A palavra oral não dá rascunho” Manoel de Barros


... não se deixe levar pelo meu verso. Não leve tão a sério a minha prosa. Não me leve a mal. Se finjo ser um bom escritor, eis mais um bom motivo. Não acredite em escritores, não os leve a sério, o que eles querem é te levar para a cama, mirar na tua pele folhas alvas e te engravidar de livros.
Marques um acaso comigo e dir-te-ei, gaguejando e tímido, porém sem desviar o olhar, todas as verdades que desejas ouvir. Te falo ao pé do ouvido, suando frio e com o coração acelerado. Mas não leia a sério nenhuma palavra da minha escrita.
Deixe que eu te toque com as mãos, mas jamais admita que uma só palavra minha penetre em teu ser, pois assim estará corrompida para sempre, e quem o disse foi Neruda, um mentiroso mais sincero do que eu. Conceda apenas o afago dessas calejadas mãos de operário semântico, de modo que permanecerá intacta em sua pureza de menina doce.
Perdoa minhas orações, cesse aqui a leitura, vá para a cama sozinha e deixe fechados os livros. Não se reduza a mero pretexto para composições estéticas, pois até mesmo o mais singelo diálogo é pervertido pela minha impudica pena. Há variações hermenêuticas que a tua ciência exata é incapaz de compreender. Te contentes com os textos lineares, quase jornalísticos. Não adentre estes meios tabernários que simulo. Disseram-me certa feita: a poesia é um crime perfeito.

 Declaro agora que te restituo a coroa, a janela, o vestido e a flor no cabelo.

“A palavra escrita não é para quem a ouve, busca quem a ouça; 
escolhe quem a entenda, e não se subordina a quem a escolhe”. 
Fernando Pessoa

*veja mais do autor em BORDEL SEMÂNTICO
(A PALAVRA QUE SE DISPUTA PARA PÔR NA GRAFIA. ) click aqui;


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