Um Amor (Emanuel Galvão)

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              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Carta Aos Mortos (Affonso Romano de Sant'Anna)

        


        Amigos, nada mudou 
        em essência. 
        Os salários mal dão para os gastos, 
        as guerras não terminaram 
        e há vírus novos e terríveis,
        embora o avanço da medicina.
        Volta e meia um vizinho
        tomba morto por questão de amor.
        Há filmes interessantes, é verdade,
        e como sempre, mulheres portentosas
        nos seduzem com suas bocas e pernas,
        mas em matéria de amor
        não inventamos nenhuma posição nova.
        Alguns cosmonautas ficam no espaço
        seis meses ou mais, testando a engrenagem
        e a solidão.
        Em cada olimpíada há récordes previstos
        e nos países, avanços e recuos sociais.
        Mas nenhum pássaro mudou seu canto
        com a modernidade.


        Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
        relemos o Quixote, e a primavera
        chega pontualmente cada ano.


        Alguns hábitos, rios e florestas
        se perderam.
        Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
        ou toma a fresca da tarde,
        mas temos máquinas velocíssimas
        que nos dispensam de pensar.


        Sobre o desaparecimento dos dinossauros
        e a formação das galáxias
        não avançamos nada.
        Roupas vão e voltam com as modas.
        Governos fortes caem, outros se levantam,
        países se dividem
        e as formigas e abelhas continuam
        fiéis ao seu trabalho. 


        Nada mudou em essência. 



        Cantamos parabéns nas festas,
        discutimos futebol na esquina
        morremos em estúpidos desastres
        e volta e meia
        um de nós olha o céu quando estrelado
        com o mesmo pasmo das cavernas.
        E cada geração , insolente,
        continua a achar
        que vive no ápice da história.

*Veja mais do autor AQUI:

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