Postagens

Um Amor (Emanuel Galvão)

Imagem
              Alguém já me havia dito que a vida é bem representada pelo aparelho que fica ao lado do leito dos pacientes, principalmente os da UTI. Aquele que faz um sobe-desce e determina o ritmo do coração, um gráfico para dizer a quantas anda nosso batimento cardíaco.  A vida tem seus altos e baixos, vejam, suas árduas subidas e os santos ajudando ladeira a baixo, como diz o ditado.            Naquele aparelho o que não se quer é uma linha reta, horizontal a sinalizar que descansamos. E na batalha da vida, pela vida e com a vida, os amores. Esses que também tem aclives e declives e podem ser difíceis para alguns, como estas palavras. Afinal, a vida não é para amadores. E eu direi: a vida é para amantes. Esses que de conversa em conversa, vão alimentado de saudades um relacionamento, esses temperados com sorrisos, carinhos e gentilezas.            São esses amores silenciosos, com menos boca e mais ouvidos que conquistam a eternidade. Saber ouvir é uma arte, saber ouvir e sorrir  é

Com Licença Poética (Adélia Prado)

Imagem
Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. Adélia Prado , Bagagem. São Paulo: Siciliano. 1993. p. 11.

"Você é Feminista!" (Ruth Manus)

Imagem
Semana passada fui dar aula sobre assédio sexual num curso de pós graduação em São Paulo. Cheguei na sala, composta predominantemente por advogados, e perguntei “Quem aqui se considera feminista?”. Silêncio. Uma moça levanta timidamente o braço. Dois ou três caras fazem comentários baixinho e riem. Disse “Ok. Vou fazer duas leituras rápidas para vocês”. Continuei. “Dicionário Houaiss da língua portuguesa: FEMINISMO: teoria que sustenta a IGUALDADE politica, social e econômica de ambos os sexos. Dicionário Jurídico da Professora Maria Helena Diniz: FEMINISMO: movimento que busca equiparar a mulher ao homem no que atina aos direitos, emancipando-a jurídica, econômica e sexualmente.” Esperei um pouquinho e mudei a pergunta “Quem aqui pode me dizer que NÃO se considera feminista?”. Ninguém levantou a mão. Pois é. Tenho a sensação de que 99% do mundo não entendeu até agora o que é feminismo. Porque se as pessoas entendessem, quase todo mundo teria orgulho de se dizer feminista. E o melhor

De Estimação (Emanuel Galvão)

Imagem
O livro vai a onde traçam seu itinerário. Preso em estantes, Todavia, livro é libertário. Livro é libertação! A capa e a contracapa Que segura o conteúdo Não o faz para sempre, Abre-se prontamente, Com auxílio curioso das mãos. Contudo, Meu caro, Leitor é bicho raro! Quase em extinção. Eu mesmo, Cuido dos meus, Ando feito Promēthéus: Trago fogo, trago flores, Reflexão, excitação, amores, Vida, sonho, paixão. Tudo para meus leitores. São meus, e de estimação. Junto a eles é meu lugar. Amar tem seus sinônimos... Um deles é cuidar. Copyright © 2018 by Emanuel Galvão All rights reserved.

A formalística (Adélia Prado)

Imagem
O poeta cerebral tomou café sem açúcar e foi pro gabinete concentrar-se. Seu lápis é um bisturi que ele afia na pedra, na pedra calcinada das palavras, imagem que elegeu porque ama a dificuldade, o efeito respeitoso que produz seu trato com o dicionário.

Esta Gente (Sophia de Mello Breyner)

Imagem
Esta gente cujo rosto Às vezes luminoso E outras vezes tosco Ora me lembra escravos Ora me lembra reis Faz renascer meu gosto De luta e de combate Contra o abutre e a cobra O porco e o milhafre Pois a gente que tem O rosto desenhado Por paciência e fome É a gente em quem Um país ocupado Escreve o seu nome E em frente desta gente Ignorada e pisada Como a pedra do chão E mais do que a pedra Humilhada e calcada Meu canto se renova E recomeço a busca De um país liberto De uma vida limpa E de um tempo justo