Postagens

Mostrando postagens de março, 2019

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

Imagem
Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Seol (Jorge Felix de Carvalho/Jürgen Von Felix)

Imagem
Elih se encontrava cansado, triste. Solitário. Diante das dificuldades que enfrentava, não conseguia ver solução. Atolado de processos, relatórios, pareceres e prazos, decidiu que não dava mais! Tentou pensar na música, nas artes, nos sonhos. Lembrou com pesar dos seus antepassados. Tentou esperança na lembrança dos descendentes. Dai, inevitavelmente tornaram-se mórbidos os seus pensamentos, dando uma força descomunal à imaginação nefasta. Elih se encontrava mesmo muito sombrio, desolado! Então, saiu do escritório, mas antes deixou todos os papéis em ordem. Organizou tudo, cada coisa no seu devido lugar. Era como se estivesse despedindo-se para sempre daquela cena. Pegou sua pasta, vestiu seu paletó, e se foi fechando a porta e em seguida jogando a chave no fundo da pasta, como se não mais fosse precisar dela. Andou a esmo em meio a multidão barulhenta, mas só conseguia ouvir uma única voz em sua mente. Olhou para a varanda de um prédio de esquina. E num hipnotizante caminhar su

Um Beijo a Distância (Emanuel Galvão)

Imagem
O que dizer de alguém inefável? Principalmente sendo esse ser, feminino. Que de modo intenso e amável Fez-me sentir: ora homem, ora menino. Seu gestual trazia tal sutileza Que meus olhos se iluminaram A visão de tanta beleza. Materializava-se como enlevo na natureza, Seu corpo nu, refletido no espelho. - o homem meu caro, é a circunstância! - Sua boca, vestida de vermelho, Mais parecia um beijo a distância. Eu que sou tão tímido E me escondo nos versos, na poesia Vi-me  tomado de uma libido De um frenesi, uma fantasia. Ela era uma mulher. A mulher: Que se deseja, que se sonha, que se quer. Há de se convir Que estar nu, vai mais além Que se despir! Já que vos pus cientes das particularidades Dar-vos-eis conhecer das intimidades. - Um pouco apenas, compreendam! - Era uma mulher para ser amada com ousadia Em seu ouvido eu sussurraria Palavras cuja paixão inflama Por onde, não se surpreendam, Eu começaria A beijar pelo pé da cama. Copyright © 2015 b

Muitas Fugiam ao Me Ver… (Carolina Maria de Jesus)

Imagem
Muitas fugiam ao me ver Pensando que eu não percebia Outras pediam pra ler Os versos que eu escrevia Era papel que eu catava Para custear o meu viver E no lixo eu encontrava livros para ler Quantas coisas eu quiz fazer Fui tolhida pelo preconceito Se eu extinguir quero renascer Num país que predomina o preto Adeus! Adeus, eu vou morrer! E deixo esses versos ao meu país Se é que temos o direito de renascer Quero um lugar, onde o preto é feliz. – Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”.  (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).  Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. “A vida é igual um livro.  Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.  E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos  como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta.  Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.” – Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”.  São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160. Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o

História pra Ninar Gente Grande (Manu da Cuíca/ Luiz Carlos Máximo/ Vitor Arantes Nunes/ Sílvio Moreira Filho e Ronie Oliveira)

Imagem
Mangueira, tira a poeira dos porões Ô, abre alas pros teus heróis de barracões Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões São verde e rosa, as multidões Mangueira, tira a poeira dos porões Ô, abre alas pros teus heróis de barracões Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões São verde e rosa, as multidões Brasil, meu nego Deixa eu te contar A história que a história não conta O avesso do mesmo lugar Na luta é que a gente se encontra Brasil, meu dengo A Mangueira chegou Com versos que o livro apagou Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento Tem sangue retinto pisado Atrás do herói emoldurado Mulheres, tamoios, mulatos Eu quero um país que não está no retrato Brasil, o teu nome é Dandara E a tua cara é de cariri Não veio do céu Nem das mãos de Isabel A liberdade é um dragão no mar de Aracati Salve os caboclos de julho Quem foi de aço nos anos de chumbo Brasil, chegou a vez De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês *Mangueira -