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Mostrando postagens de maio, 2019

O Beijo (Elsa Moreno)

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O Beijo de Gustav Klint (fragmento) Eu acho que os beijos são dados na boca porque é onde brotam as palavras. Se eu te beijasses a ponta dos dedos, estaria buscando uma carícia; se te beijasse a sola do sapato, estaria buscando um caminho. Se te beijasse as pálpebras enquanto dormes, estaria pedindo permissão para entrar nos teus sonhos, mas estou te beijando os lábios, porque quero ouvir minhas palavras saírem de ti, outra vez. Se te beijasse a planta dos pés, buscaria um passo em falso. Se te beijasse a parte interna do cotovelo, buscaria teus esconderijos. Se te beijasse a sombra, não saberia o que busco, mas estaria tão perto. Se te buscasse essa noite, beijaria cada estranho até te encontrar. Outra vez. Se eu te beijasse, seria como algo escorregadio sobre uma tela de carne que transborda e se espalha pelas vigas da minha casa. Subiria escorregadia por um muro, separando a pele da carne que se injeta em uma estrutura impessoal chamada nome. Estaria consumida antes mesmo de abrir ...

A Palavra (Pedro Costa Pereira - Pedro poeta)

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A palavra Alavanca e derruba Anula e constrói Pole e corrói Veste e desnuda Afaga e maltrata Alegra e aborrece Apaga e resplandece Adianta e retarda A palavra É o estouro da bomba É o perfume da flor A palavra é quem comanda Se declaras guerra Ou proferes o amor Copyright © 2019 by Pedro Costa Pereira All rights reserved.

A mulher da luz (Mírian Monte)

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Para você eu corro, Quando necessito de socorro, Quando o mundo cai sobre meus ombros E quando fico sob os escombros Da tristeza e da desilusão. São os seus olhos por que procuro, Quando me perco no escuro, Quando entro em apuro, E quando busco o perdão. É seu abraço que me acolhe Se o que se planta não se colhe Se a sorte se encolhe E se o sonho sonhado só, Simplesmente vira pó. São suas mãos que me ajudam A levantar na segunda-feira, A juntar essa poeira Decidindo recomeçar E a fazer, do pó, sementes Com urgência de estrela cadente, Para outras quimeras semear.  É sua alma, cheirando a alfazema, Que me inspira esse poema E que me faz querer dizer: Mãe, meu amor primeiro, Gratidão por todo o zelo E por me compreender. Minha fada, Minha musa, Minha rainha É você, mãezinha, A mulher da luz E de cada amanhecer. De todos os medos que carrego O maior de todos, eu não nego, É o de ver, minha mãe, O seu sorriso fenecer. Copyright © 2019 by Mírian...

Felicidade (Vicente de Carvalho)

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Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada: Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda. O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa, que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim : mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos.