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Mostrando postagens com o rótulo poesia

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Ela é Mar (Ademir João da Silva)

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Ela é mar que invadiu, inundou com corpo, alma, personalidade política, arte e eu, feito boca acanhada do Mundau ante o oceano  escancarei-me! virei ria* tresloucada e serelepe. Também ganhei mais sal mais gosto diante do mundo A minha cara? O meu cabelo?  A minha cabeça? Um delicioso cheiro de maresia lagunar  manguesina diversa da marítima -virei estuário- . É, ela é m a r que inundou afogou e eu, feito boca acanhada do Mundau ante o Atlântico alarguei-me! pra logo em seguida derrengar-me, jazer lá alagadiço meio tamponado e ofegante por alguns momentos imediatamente após a vaza da maré -menos água, menos sal agora- porém mais sabor e cor e tão úmido e tão cheiroso. Copyright © 2019 by Ademir João da Silva  All rights reserved.  * substantivo feminino Esteiro ou braço de rio, geralmente usado para navegação. ... Costa rasa do mar com recortes profundos (mais usada no plural):rias do mar. **Modelo Emanuelle Batista , fot

"Não Temos Muito o Que Conversar" (Majal-San)

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As esquinas não se fazem sós, A Lua não brilha por si. A brisa não refresca por nós, A nota que desafina em Mi. As curvas não se entortam alheias, A ventania atordoa o pó. Teus olhos não se retraem – anseias A nota que desafina em Dó. As vozes não se calam à toa, A Poesia permanece de pé. Teu sussurro deveras entoa Uma nota que desafina em Ré. *Veja mais do autor  aqui

Romance em Construção (Emanuel Galvão)

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Olhou aquela mulher como se fosse a única. Deixou de lado o medo e seu jeito tímido.  Parou defronte aquele ser belíssimo.  Tocou seus lindos lábios num beijo úmido. Ela surpreendeu-se com a atitude súbita.  Ficou, atordoada, eu diria que atônita.  Levou as mãos à face e ficou estática.  Seu rosto iluminou-se de um brilho pálido. Beijou-a novamente, firme, forte e rápido.  Antes que parecesse um ato patético.  O que de fato era um ato homérico. E quem observou achou até poético. Seus pés cambalearam e ficaram flácidos.  Mas o seu coração batia tão frenético.  Nunca imaginou ser beijada em público.  Queria parar, mas era hipnótico. Ele estava ali se sentido o máximo.  O que o assustava era um motivo estético.  E desistir então lhe parecia módico.  Os sentimentos puros que trazia tácito.  Então, declarou seu amor, fiel e impávido.  E a partir daí, deixou de ser, teórico. Copyright © 2015 by Emanuel Galvão All rights reserved. Elogio ao Desej

A mulher da luz (Mírian Monte)

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Para você eu corro, Quando necessito de socorro, Quando o mundo cai sobre meus ombros E quando fico sob os escombros Da tristeza e da desilusão. São os seus olhos por que procuro, Quando me perco no escuro, Quando entro em apuro, E quando busco o perdão. É seu abraço que me acolhe Se o que se planta não se colhe Se a sorte se encolhe E se o sonho sonhado só, Simplesmente vira pó. São suas mãos que me ajudam A levantar na segunda-feira, A juntar essa poeira Decidindo recomeçar E a fazer, do pó, sementes Com urgência de estrela cadente, Para outras quimeras semear.  É sua alma, cheirando a alfazema, Que me inspira esse poema E que me faz querer dizer: Mãe, meu amor primeiro, Gratidão por todo o zelo E por me compreender. Minha fada, Minha musa, Minha rainha É você, mãezinha, A mulher da luz E de cada amanhecer. De todos os medos que carrego O maior de todos, eu não nego, É o de ver, minha mãe, O seu sorriso fenecer. Copyright © 2019 by Mírian Mon

Felicidade (Vicente de Carvalho)

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Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada: Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda. O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa, que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim : mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos.

Filosofia Nordestina (Mírian Monte)

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Perdoem-me a intromissão, Mas tem razão o Ministério da Educação. Se o nordestino continuar filosofando, Será um disparate, será desumano! Imagine se surgisse outro Graciliano, Uma nova Raquel de Queiroz... O que seria de nós?! O Brasil perderia as estribeiras! Já pensou se resgatarem a Nise da Silveira? Ah, meu pai amado, meu Jorge Amado! Nem cravo e canela resolvem a querela! "Parem o mundo que quero descer", Quero consignar essa queixa, Parafraseando Raul Seixas. E se os estudantes falarem versos Contarem prosas, Ou citarem Rui Barbosa? Ariano Suassuna que assuma essa ciranda, Porque nem Pontes de Miranda Conseguiria solucionar! E nem se fale em José de Alencar: Imagine se "O Guarani" fosse uma trilogia! Teríamos versos em tupi, na poesia! Vou encerrar com Tobias Barreto, Eu prometo! Ou melhor seria com Castro Alves? Que os anjos nos salvem! Esse povo do Nordeste É povo de muita sabedoria... Imagine se nas escolas Ensinarem filo

Vazantes (Nadja Rocha)

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Represar exige mais força e energia que  deixar fluir... E fluir é  ser e deixa ser. Que os encontros sejam vazantes... E quando assim não for, ainda  terá sido tudo sobre um mergulho... em você! Copyright © 2019 by Nadja Rocha All rights reserved.

Um Beijo a Distância (Emanuel Galvão)

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O que dizer de alguém inefável? Principalmente sendo esse ser, feminino. Que de modo intenso e amável Fez-me sentir: ora homem, ora menino. Seu gestual trazia tal sutileza Que meus olhos se iluminaram A visão de tanta beleza. Materializava-se como enlevo na natureza, Seu corpo nu, refletido no espelho. - o homem meu caro, é a circunstância! - Sua boca, vestida de vermelho, Mais parecia um beijo a distância. Eu que sou tão tímido E me escondo nos versos, na poesia Vi-me  tomado de uma libido De um frenesi, uma fantasia. Ela era uma mulher. A mulher: Que se deseja, que se sonha, que se quer. Há de se convir Que estar nu, vai mais além Que se despir! Já que vos pus cientes das particularidades Dar-vos-eis conhecer das intimidades. - Um pouco apenas, compreendam! - Era uma mulher para ser amada com ousadia Em seu ouvido eu sussurraria Palavras cuja paixão inflama Por onde, não se surpreendam, Eu começaria A beijar pelo pé da cama. Copyright © 2015 b

Muitas Fugiam ao Me Ver… (Carolina Maria de Jesus)

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Muitas fugiam ao me ver Pensando que eu não percebia Outras pediam pra ler Os versos que eu escrevia Era papel que eu catava Para custear o meu viver E no lixo eu encontrava livros para ler Quantas coisas eu quiz fazer Fui tolhida pelo preconceito Se eu extinguir quero renascer Num país que predomina o preto Adeus! Adeus, eu vou morrer! E deixo esses versos ao meu país Se é que temos o direito de renascer Quero um lugar, onde o preto é feliz. – Carolina Maria de Jesus, em “Antologia pessoal”.  (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy).  Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. “A vida é igual um livro.  Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra.  E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos  como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta.  Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.” – Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”.  São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160. Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o

"Ele tocou..." (Rupi Kaur)

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ele tocou meu pensamento antes de chegar à minha cintura meu quadril ou minha boca ele não disse que eu era bonita de primeira ele disse que eu era extraordinária - como ele me toca *do livro outros jeitos de usar a boca.

Nenhuma Qualquer (Paulo Miranda Barreto)

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Meu bem. . . mulher nenhuma é ‘qualquer uma’ nem tem que bem- querer quem mal lhe quer . . . meu bem toda mulher é supra e suma orquídea que perfuma se quiser . . . qualquer mulher é todas. . . doce Luma porém, mulher alguma é ‘uma qualquer’. . . PAULO MIRANDA BARRETO Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição CompartilhaIgual 4.0 Internacional -.

"Brasil" (Sergio Vaz)

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A mulher repleta de lama, chora. O homem feito de barro desaba em lágrimas. De aço mesmo, só a vida -essa lâmina cega que corta sempre do mesmo lado. Foto @diniloris 2015

"Quando For Fazer amor" (Zack Magiezi)

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Quando for fazer amor. Faça nu. Tire os diplomas. O Status. Sucesso profissional. Suas etiquetas de grife. Tire a chaves do carro. Os cartões de crédito. Tire tudo. Até só sobrar a deliciosa. Apimentada humanidade. Siga o autor no Instagran.

Neruda (Rafael Britto)

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Não me prive do consolo do seu olhar terno E nem troque as fechaduras do seu coração Acabe com esses delírios tão inquietos Pois estou perto e certo que temos solução Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Se deite na areia da praia mais linda que ver Relembre seus momentos felizes comigo Refaça as coisas que não deram certo Procure nas ondas da vida um mar de sorrisos Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Volta pra casa, trazendo as malas de sua viagem Na bagagem mostra por onde seu sonho passou O que soprou o vento em seus cabelos Remete-los ao acordar que nossa vida já chegou Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... E se você dormir por estar confusa com isso Cismo eu mesmo de tentar te ajudar Acompanhar seu sofrimento tão impreciso Algo tão ambíguo, mas querido, como o mar Se eu posso viver tudo isso de novo, posso lhe fazer feliz agora... Sou péssimo com as palavr

Aninha e Suas Pedras (Cora Coralina)

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Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

Inevitável (Paulo Miranda Barreto)

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Coloquei palavras na boca da noite Sussurrei mentiras na orelha dos livros Conversei com plantas, retratos, paredes. . . e roubei de Deus uns dons subversivos Caminhei nas nuvens com meus pés de vento Bebi oceanos, fumei nevoeiros e desapontei ponteiros de relógio por matar meu tempo . . . com versos certeiros Não ganhei o dia, nem movi o monte mas juro . . . delirei a cada letra aliterando as linhas do horizonte. . . rimando a luz até domar o medo. . . Olhei os lírios do campo Contei estrelas, segredos Cortei pulsos, fios e dedos. . . Errei, conheci verdades. . . Caí do céu noutro mundo Vi pra crer, quase não cri . . . Ousei escapulir . . . Pulei um muro Revi meu passado, previ meu futuro e dei-me de presente um ‘Bem Maior’ Fui muitas vezes dessa pra melhor. . . -garanto que ser eu nunca foi fácil- fui sempre o ‘menos lúcido’ no hospício e nunca o ‘mais benquisto’ no palácio. . . fui fundo, fiz chover, salvei uns santos e devo admitir . . . nem foram tantos mas, tudo bem -ningué

Contágio (Bruna Lombardi)

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Feroz em nós uma paixão de novo nos ameaça nos faz vibrar, o sangue flui sobe no rosto de repente a gente fica disposto a tudo e tudo é pouco não importa que essa loucura não tenha alívio a gente muda, respira de outro jeito arfa no peito sempre uma pressa sempre aquela vontade sozinha fico metade depressa me abraça, uma saudade que dói, uma coisa que arrebenta e não se agüenta mais. A gente se entrega ao risco arrisca a pele, perde o rumo no prazer dessa desorientação A gente quer explodir e não pode quer se conter e não sabe quer se livrar do jugo da paixão mas não quer que ela acabe

Da Calma e do Silêncio (Conceição Evaristo)

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Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas. Quando meu olhar se perder no nada, por favor, não me despertem, quero reter, no adentro da íris, a menor sombra, do ínfimo movimento. Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem. Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia. Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra.  “Poemas da recordação e outros movimentos”.  Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

O Acendedor de Esperanças da Rua (Emanuel Galvão)

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Basta de verdades baratas.  Arrancai o ranço do coração!  As ruas são nossos pincéis  e paletas as nossas praças.  No livro do tempo  ainda não foram cantadas  as mil páginas da revolução. Para a rua, futuristas,  tambores e poetas!                                                                 Vladimir Maiakóvski  *Para Letícia Sabatella & Jonathan Silva La vem o acendedor de esperanças da rua Este mesmo que vem com sua inquietude, Seus sonhos, suas dores, a juntar-se a tua, A transformar, utopia e poesia, em atitude. Um, dois, três corações, acende e continua Outros mais a acender, inadvertidamente, A medida que as trevas, rasteira insinua Uma estupidez humana, viral e indecente. Triste ironia atroz que Jorge nos apresenta: O cordeiro inocente a apostar em lobos, Enquanto o covarde, da escolha, se isenta. A insídia do fascismo, se ergue e continua, Na ilusão do apelo patriótico e seus arroubos. Fez florescer, acendedores de corações

Nordestino Sim, Nordestinado Não (Patativa de Assaré/Antônio Gonçalves da Silva)

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Nunca diga nordestino Que Deus lhe deu um destino Causador do padecer Nunca diga que é o pecado Que lhe deixa fracassado Sem condições de viver Não guarde no pensamento Que estamos no sofrimento É pagando o que devemos  A Providência Divina Não nos deu a triste sina De sofrer o que sofremos Deus o autor da criação Nos dotou com a razão Bem livres de preconceitos Mas os ingratos da terra Com opressão e com guerra Negam os nossos direitos Não é Deus quem nos castiga Nem é a seca que obriga Sofrermos dura sentença Não somos nordestinados Nós somos injustiçados Tratados com indiferença Sofremos em nossa vida Uma batalha renhida Do irmão contra o irmão Nós somos injustiçados Nordestinos explorados Mas nordestinados não Há muita gente que chora Vagando de estrada afora Sem terra, sem lar, sem pão Crianças esfarrapadas Famintas, escaveiradas Morrendo de inanição Sofre o neto, o filho e o pai Para onde o pobre vai Sempre encontra o mesmo