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Mostrando postagens com o rótulo Crônicas

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

O Que é Morrer de Sede em Frente ao Mar? (Fernando Tenório)

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Carlos saiu para passear. Embora avesso às saídas no fim de tarde de sábado resolveu, por obra do destino ou acaso, ver o mar. Experimentou a brisa no rosto como há muito não fazia. Olhou para o azul do céu e lembrou-se dos olhos de um passado que ainda mexe. Mexe mais que ressaca de mar revolto, tem poder maior que o da água na arrebentação, a qual pode,apesar da sua fluidez, levar tudo consigo.

Norte, não! NORDESTE! (Felipe Chaves Guimarães)

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Nascido em Maceió/Alagoas, quis a vida me levar, me alfabetizar e me criar na Ponta da Praia/Santos/São Paulo. Cresci como aqueles meninos que moram no “Sul” de um Brasil que me diziam que era dividido em somente duas regiões.

“A mãe será capaz de se esquecer, ou deixar de amar algum dos filhos que gerou?” (Adriana Moraes)

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       Acordei meio mexida e carecia de escrever, é que escrevendo, organizo a minha dor... Bem de mansinho ela me chamou e disse: - Ei mulher, me ajude aqui. Eu não me lembro como é que faz pra fechar a porta. Como é, usa a chave? Ao ouvir essa sentença, me levantei, fui até a porta, mostrei como colocar a chave na fechadura e voltei tão atônita. Essa ação tão simples, que qualquer um sabe fazer, ela já não sabe. Quando fui deitar, tentei me lembrar de algumas coisas que ela me ensinou ao longo da vida. Com ela aprendi a falar (e falar muito), a caminhar, a usar os talheres, a dizer as palavras mágicas. Lembrei-me exatamente do quanto eu a achava incrível fazendo coisas bobas como comprar peixe (ela sabia bem escolher), a capacidade de pechinchar, cálculos matemáticos mentais. “Não conte sua vida para quem não é feliz”, ela me disse mais de uma vez. No meio desse turbilhão de pensamentos, recordei de uma postagem no Facebook que dizia “Mãe deveria ser eterna”. Perdoem-me os que

Onde anda seu primeiro amor? (Fernando Tenório)

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Todos nós já tivemos um primeiro amor. Pode não ter sido o melhor beijo, o melhor na cama e o amor mais intenso. No entanto, guardamos no bolso que carregamos o passado um quê de nostalgia e uma curiosidade sobre a vida do amor mais pueril. Certo dia lembrei do meu primeiro amor. A moça era de Maribondo-Alagoas, assim como eu. Por ela fui capaz de ir contra minha natureza. Frequentei as discotecas das cidades vizinhas. Thundercats em Capela, Zueira em Anadia e Miau em Tanque D´arca. Frequentei muito show de forró para ter chance de chamá-la à uma única dança. Por ser um péssimo dançarino, concentrava-me em não pisar em seu pé e não proferia uma só palavra. Mesmo assim, ganhava a noite por minha coragem e quase conquista.

Sobre a Perversidade (Marla de Queiroz)

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O perigo da perversidade é que ela é muito sutil. Um ser perverso jamais te atacará diretamente. Ele vai saborear cada silêncio calculado para despertar sua agonia. Ele vai tentar tolher seus lugares íntimos até que não reste qualquer espaço para manobras. Ele vai te seduzir da maneira mais irresistível e depois te tratar com um descaso inexplicável, como se algo de errado tivesse acontecido, mas sem te dar quaisquer indícios do que possa ter acontecido. Ele será carismático com os outros, prestativo, mas demonstrará impaciência em responder à sua mais simples pergunta. Ele vai oscilar entre o tesão e a indiferença. Você se sentirá desejada quando o sufoco tiver tomado toda a sua alma e, totalmente desamparada quando o desejo demonstrado parecer esvaído nos primeiros suspiros da manhã. E o dia seguinte se tornará um longo e agonizante ano. Ele parecerá espirituoso, depois irônico, mas estará sendo absurdamente crítico e sarcástico. E te deixará tão confusa que você, por momentos,

Manifesto Pela Ocupação Amorosa dos Corações Vazios (André J. Gomes)

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E de agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados, partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.

Feliz Páscoa (Frei Beto)

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Feliz Páscoa aos que desdobram a subjetividade, rompendo a casca do ego para deixar renascer a mulher ou o homem novo, e a quem se nutre de TV sem enxergar as maravilhas encerradas no próprio peito. Feliz Páscoa aos artífices da paz que, entre conflitos, exalam suavidade, não achibatam com a língua a fama alheia, nem naufragam nas próprias feridas. E aos emotivos que deixam escapar das mãos as rédeas da paciência e nunca abandonam as esporas da ansiedade.

Somos Hoje Matemática (Branca Barão)

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          A soma de todas as experiências que tivemos até aqui. Cada filme que vimos, cada música que ouvimos, cada relacionamento que tivemos, cada sanduíche que comemos. Divididos entre vida pessoal e profissional, entre ser pai ou amigo, mãe ou filha, entre cuidar de mim mesmo ou do outro. Entre comer e emagrecer, acordar cedo e malhar ou dormir mais um pouco e deixar a academia para lá. Multiplicamos respostas para depois descobrirmos que as perguntas também se multiplicam. Somos o que ainda temos para viver, subtraídos dos anos que já vivemos, bem ou não.

'Poeta é Preso em Flagrante Sorriso' - FOLHA DA AMARGURA (Sergio Vaz)

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FOLHA DA AMARGURA  Sergio Vaz POETA É PRESO EM FLAGRANTE SORRISO Neste sábado pela manhã, a tropa de elite do mau humor, fortemente armada, conseguiu prender o poeta Augusto, 44, que estava sorrindo, sem autorização, deliberadamente em mais uma manhã terrivelmente ensolarada.  Acusado de Idiota, o poeta foi enquadrado na lei nº777, denominada "Tristeza não tem fim" e imediatamente levado ao Departamento das caras amarradas, no Centro das Mágoas, em São Paulo.

O Dicionário (Islan Lisboa)

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Lembro-me de um inusitado presente que ganhei aos oito anos de minha mãe no dia das crianças. Estava bastante ansioso, como toda criança fica, esperando o dia 12 de outubro. Despertei feliz naquela manhã e quando vi o embrulho que ela trazia com um sorriso no rosto, e o brilho no olhar de quem espera ver a cara de uma criança ao desembrulhar o pacote.

Os ausentes (Martha Medeiros)

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'Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o. Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-O. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore.' Eu não assisti ao programa, mas soube da história. O jornalista David Letterman recebeu Joaquim Phoenix para uma entrevista. O ator fez jus à fama de bad boy: não parou de mascar chiclete e só respondia com monossílabos e grunhidos, não facilitando o andamento da conversa. Letterman tentou, tentou, e como não conseguiu arrancar nada do sujeito, encerrou a entrevista com uma tirada que me pareceu perfeita: “Joaquin, uma pena que você não pôde vir esta noite” . Quando uma pessoa se dispõe a dar uma entrevista, tem que entrar no jogo: responder com generosidade ao

O Desaparecido (Rubem Braga)

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Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Eu não sou fraca, sou fraquíssima! (Adriana Moraes)

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Eu cresci em meio a mulheres extremamente fortes. Fortes à sua maneira. Entre minha mãe, minhas tias e as agregadas da família, vi mulheres que tomavam decisões, matavam leões, matavam e morriam diariamente. Assisti essas mulheres defendendo suas crias de um estranho mundo que sempre foi cruel com elas mesmas. Testemunhei, despercebida, as lutas diárias e insanas delas para ter pão na mesa, para ter educação para suas crias, para ter um teto sobre suas cabeças. Essa força nas mulheres que eu conheço é tão natural que nem chega a ser qualidade, é necessidade. Essas mesmas mulheres, apesar da força, são machistas. Mas até isso me serviu de lição. Aprendi que o machismo e a opressão que ele nos causa, vem em parte, de nós mesmas. Nós estabelecemos de algum modo, as relações de gênero, nós construímos também essa cultura.

Felicidade Realista (Martha Medeiros)

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De norte a sul, de leste a oeste, todo mundo quer ser feliz. Não é tarefa das mais fáceis. A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica, a bolsa Louis Vitton e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor… não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

Pequeno Tratado sobre a Mortalidade do Amor (Alexandre Inagaki)

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Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, cartas cada vez mais concisas, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição. Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vid

'O Medo do Amor' (Marla de Queiroz)

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Eu não tenho medo do amor. Eu tenho medo é de amar quem tem medo dele. Amar quem teme o amor é como se apaixonar por uma sucessão de desistências. É como viver apenas a possibilidade de algo, mas com a sensação de que ela nunca se estabelecerá. É ficar intranqüilo não com o amanhã, mas com os próximos minutos.

Uma Paixão Sedutora (Socorro Monteiro)

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Um dia um homem apaixonado por uma arte me contaminou com o vírus da sedução das imagens com a mesma avidez do poeta que atrai pela palavra. E como a terra que faz nascer a semente nas suas entranhas, ele fez germinar dentro de mim o interesse de viajar no mundo do cinema.

Receita de Dona Cacilda (Legrand)

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Dona Cacilda é uma senhora de 92 nos, miúda, e tão elegante, que todo o dia, às 8 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão. E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução. Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, eu dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas de tecido florido que enfeitavam a janela. Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma a garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho. "Ah, eu adoro essas cortinas." "Dona Cacilda, a senhora ainda não viu seu quarto, espera mais um pouco." "Isso não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou

Por que você ama quem você ama? (Martha Medeiros)

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Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo.

Mantra - 'Eu me torno emocionalmente saudável...' (Marla de Queiroz)

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Eu me torno emocionalmente saudável quando consigo desconstruir todas as tolices sobre amores salva-vidas e jogar a ideia surreal do príncipe encantado no lixo. Eu me torno emocionalmente saudável quando acredito que namorar deve ser leve mesmo quando intenso, e divertido mesmo quando há um sério comprometimento. Eu me torno emocionalmente saudável quando o que me ocupa é a minha vida e não a reação que tenho ao comportamento alheio. Eu me torno emocionalmente saudável quando percebo que determinada história não me abrange, me deixa inadequada, fere a minha autoestima e sinto que isto é o suficiente para eu tentar ser feliz e me abrir para outras possibilidades. Eu me torno emocionalmente saudável quando escolho os meus parceiros pelo que me agregam de luz e crescimento, não pelo desafio que me trazem quando se mostram emocionalmente indisponíveis ou abertos para viverem outras relações que não a nossa. Eu me torno emocionalmente saudável quando me permito ficar sozinha até atra