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Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Um surdo manifesto: DA ALMA ENCANTADORA DAS RUAS AOS MOLEQUES ACOSTUMADOS COM SUCRILHOS NO PRATO - ou dos textos que poucos leem e muitos fingem não entender - (Juliano Beck)

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“Qual de vós já passou a noite em claro  ouvindo o segredo de cada rua?  Qual de vós já sentiu o mistério, o sono,  o vício, as ideias de cada bairro?  A alma da rua só é inteiramente sensível  a horas tardias." (João do Rio)  Os usos que se faz da rua divergem. Ao pobre a rua é uma extensão de si. Lhe invade o peito a brisa matutina quando ao labor se encaminha de bicicleta. Lhe toma por inteiro o cheiro virulento das povoadas horas do terminal meio-dia. Lhe afaga quando o fim de tarde lhe cai sob o dorso trazendo os matizes que não se dão por vencidos frente à inevitabilidade gris que a tudo concretiza. Há nisso uma noção de pertencimento, orgulhoso pertencimento. Tudo lhe foi tirado, arrancado, mas ele dispõe da rua! Por ela anda vagarosamente sentindo as entranhas de cada esquina. É dela que tira o seu sustento. Nela também se põe a ruminar a vida. E sorve um trago nas recônditas tabernas do centro. E nela perde a noção do tempo. E se encaminha a pé para

HISTÓRIA DE FOGO (Juliano Beck de Oliveira)

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“A palavra oral não dá rascunho” já dizia o Manoel de Barros. Consiste esse aforismo na mais pura simulação da verdade de que se tem notícia. Não dá rascunho porque não engravida de livros, a palavra oral é despretensiosa, irresponsável, se dedica apenas aos deleites momentâneos, depois se esvai e raramente resta alguma prova cabal do ato consumado, quando muito uma marca de batom se o orador em questão for um tanto quanto descuidado. Por sua vez, a palavra escrita... ah, essa costuma prostrar o leitor no papel e abusá-lo em todas as posições sintáticas que o termo é capaz de exercer. Não satisfeita, exige ser alçada aos confins do vento e, por declamação, eis meu poema na tua boca outra vez, latejando de sentido. E um ou dois enunciados não bastam, é hora de deitar novamente, pois a pena em riste não cessa de escrever, lançando em teu ventre o sêmen do gosto pelas artes verbais. Incontáveis são os artifícios literários urdidos para que se cumpra religiosamente a est

À PRETEXTO (Juliano Beck de Oliveira)

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“A palavra oral não dá rascunho” Manoel de Barros ... não se deixe levar pelo meu verso. Não leve tão a sério a minha prosa. Não me leve a mal. Se finjo ser um bom escritor, eis mais um bom motivo. Não acredite em escritores, não os leve a sério, o que eles querem é te levar para a cama, mirar na tua pele folhas alvas e te engravidar de livros. Marques um acaso comigo e dir-te-ei, gaguejando e tímido, porém sem desviar o olhar, todas as verdades que desejas ouvir. Te falo ao pé do ouvido, suando frio e com o coração acelerado. Mas não leia a sério nenhuma palavra da minha escrita. Deixe que eu te toque com as mãos, mas jamais admita que uma só palavra minha penetre em teu ser, pois assim estará corrompida para sempre, e quem o disse foi Neruda, um mentiroso mais sincero do que eu. Conceda apenas o afago dessas calejadas mãos de operário semântico, de modo que permanecerá intacta em sua pureza de menina doce. Perdoa minhas orações, cesse aqui a leitura, vá para a cam