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Mostrando postagens com o rótulo Jorge de Lima

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Invenção de Orfeu [Reino Mineral] (Jorge de Lima)

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  Sal-Gema extraído pela Braskem "mina 18" REINO MINERAL Quem te fez assim soturno quieto reino mineral, escondido chão noturno? Que bico rói o teu mal? Quem antes dos sete dias te argamassou em seu gral? Quem te apontou pra onde irias? Quem te confiou morte e guerra? Quem te deu ouro e agonias? Quem em teu seio de terra infundiu a destruição? Quem com lavas em ti berra? Quem te fez do céu o chão Quieto reino mineral? Quem te pôs tão taciturno? Que gênio fez por seu turno antes do mundo nascer: a criação do metal, a danação do poder?           Invenção de Orfeu, Canto Primeiro, XI

Serra da Barriga (Jorge de Lima)

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Serra da Barriga! Barriga de negra-mina! As outras montanhas se cobrem de neve, de noiva, de nuvem, de verde! E tu, de Loanda, de panos-da-costa, de argolas, de contas, de quilombos! Serra da Barriga! Te vejo da casa em que nasci. Que medo danado de negro fujão! Serra da Barriga, buchuda, redonda, de jeito de mama, de anca, de ventre de negra! Mundaú te lambeu! Mundaú te lambeu! Cadê teus bumbuns, teus sambas, teus jongos? Serra da Barriga, Serra da Barriga, as tuas noites de mandinga, cheirando a maconha, cheirando a liamba? Os teus meio-dias: tibum nos peraus! Tibum nas lagoas! Pixains que saem secos, cobrindo sovacos de sucupira, barrigas de baraúna! Mundaú te lambeu! Mundaú te lambeu! De noite: tantãs, curros-curros e bumbas, batuques e baques! E bumbas! E cucas: ô ô! E bantos: ê ê Aqui não há cangas, nem troncos, nem banzos! Aqui é Zumbi! Barriga da África! Serra da minha terra! Te vejo bulindo, mexendo, gozando Zumbi! Depois, minha

O Poeta Diante de Deus (Jorge de Lima)

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Senhor Jesus, o século está pobre. Onde é que vou buscar poesia? Devo despir-me de todos os mantos, os belos mantos que o mundo me deu. Devo despir o manto da poesia. Devo despir o manto mais puro. Senhor Jesus, o século está doente, o século está rico, o século está gordo. Devo despir-me do que é belo, devo despir-me da poesia, devo despir-me do manto mais puro que o tempo me deu, que a vida me dá. Quero leveza no vosso caminho. Até o que é belo me pesa nos ombros, até a poesia acima do mundo, acima do tempo, acima da vida, me esmaga na terra, me prende nas coisas. Eu quero uma voz mais forte que o poema, mais forte que o inferno, mais dura que a morte: eu quero uma força mais perto de Vós. Eu quero despir-me da voz e dos olhos, dos outros sentidos, das outras prisões, não posso Senhor : o tempo está doente. Os gritos da terra, dos homens sofrendo me prendem, me puxam ¬ me daí Vossa mão. JORGE DE LIMA (1895 — 1953) J

Essa Negra Fulô (Jorge de Lima)

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Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo) no bangüê dum meu avô uma negra bonitinha, chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) — Vai forrar a minha cama pentear os meus cabelos, vem ajudar a tirar a minha roupa, Fulô! Essa negra Fulô Essa negrinha Fulô! ficou logo pra mucama pra vigiar a Sinhá, pra engomar pro Sinhô! Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! (Era a fala da Sinhá) vem me ajudar, ó Fulô, vem abanar o meu corpo que eu estou suada, Fulô! vem coçar minha coceira, vem me catar cafuné, vem balançar minha rede, vem me contar uma história, que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô! "Era um dia uma princesa que vivia num castelo que possuía um vestido com os peixinhos do mar. Entrou na perna dum pato saiu na perna dum pinto o Rei-Sinhô me mandou que vos contasse mais cinco". Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Vai botar para dormir esses meninos, Fulô! "minha mãe me penteou minha mad

INVERNO (Jorge de Lima)

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Zefa, chegou o inverno! Formigas de asas e tanajuras! Chegou o inverno! Lama e mais lama chuva e mais chuva, Zefa! Vai nascer tudo, Zefa, Vai haver verde, verde do bom, verde nos galhos, verde na terra, verde em ti, Zefa, que eu quero bem! Formigas de asas e tanajuras! O rio cheio, barrigas cheias, mulheres cheias, Zefa! Águas nas locas, pitus gostosos, carás, cabojés, e chuva e mais chuva! Vai nascer tudo milho, feijão, até de novo teu coração, Zefa! Formigas de asas e tanajuras! Chegou o inverno! Chuva e mais chuva! Vai casar, tudo, moça e viúva! Chegou o inverno Covas bem fundas pra enterrar cana: cana caiana e flor de Cuba! Terra tão mole que as enxadas nelas se afundam com olho e tudo! Leite e mais leite pra requeijões! Cargas de imbu! Em junho o milho, milho e canjica pra São João! E tudo isto, Zefa... E mais gostoso que tudo isso: noites de frio, lá fora o escuro, lá fora a chuva, trovão, corisco, terras caídas, córvos gemendo, os caborés gemendo, os caborés piando, Ze

MULHER PROLETÁRIA (Jorge de Lima)

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Portinari Mulher proletária — única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário.  

DISTRIBUIÇÃO DA POESIA (Jorge de Lima)

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Mel silvestre tirei das plantas, sal tirei das águas, luz tirei do céu. Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo para oferecer ao Senhor. Não tirei ouro da terra nem sangue de meus irmãos. Estalajadeiros não me incomodeis. Bufarinheiros e banqueiros sei fabricar distâncias para vos recuar. A vida está malograda, creio nas mágicas de Deus. Os galos não cantam, a manhã não raiou. Vi os navios irem e voltarem. Vi os infelizes irem e voltarem. Vi homens obesos dentro do fogo. Vi ziguezagues na escuridão. Capitão-mor, onde é o Congo? Onde é a Ilha de São Brandão? Capitão-mor que noite escura! Uivam molossos na escuridão. Ó indesejáveis, qual o país, qual o país que desejais? Mel silvestre tirei das plantas, sal tirei das águas, luz tirei do céu. Só tenho poesia para vos dar. Abancai-vos, meus irmãos.

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES DA RUA (Jorge de Lima)

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Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente!