*Fazer-se poeta e
tornar-se poesia
Fazer-se poeta e
tornar-se poesia, esses são os principais objetivos contidos no livro de
Emanuel Galvão. Em cada poema seu, acredito, não é a mulher amada que precisa
ser seduzida, mas a palavra revolta e insubordinada. Em diversos momentos para
conquistá-la, domá-la o poeta convoca seus mestres e nos remete a um prazeroso
diálogo entre amigos: só com poesia, se conquista a palavra. Aos poucos, com
grande volúpia e talento, Emanuel envolve sua matéria, tornando-a sua amante,
mostrando-nos suas essências e desnudando seus encantos. O poeta faz arte como
quem faz amor: “Vício ou Ofício?”.
Dessa paixão ardente nascem
os mais diversos poemas e em plena cumplicidade falam sobre as belezas e as
mazelas da vida. O poeta e sua musa - a palavra - sabem que tudo é matéria para
a poesia. Mas nós sabemos que, aqui, sem o poeta e sem a palavra, toda matéria
seria vazia. A palavra foi seduzida pelo poeta ou foi o poeta seduzido pela
palavra?
ANDRÉA PEREIRA MORAES
CRÍTICA LITERÁRIA
GRADUADA EM CIÊNCIAS
SOCIAIS
MESTRE EM LITERATURA
BRASILEIRA
DOUTORANDA EM
LITERATURA BRASILEIRA
/UFAL
*AO LEITOR.
Você, que
certamente vai ler esse livro, cuidado! Nele há uma magia, a magia das
palavras que quando juntas, jogadas umas com as outras, nos rebocam para si.
Ler “Flor
Atrevida” é como montar um pássaro e seguir seus passos levitando sobre a vida,
sobre o amor, sobre a pureza da sensibilidade e dos sentidos das palavras. É
estreitar uma relação de paixão e amasiamento com as palavras.
Emanuel tem um jeito
atrevido e singular de traduzir em palavras sua sutil e sublime relação com o
feminino; valorizando-o, enaltecendo-o, dando-lhe o estato de divindade,
próprio da sensibilidade poética.
Ele busca também na figura feminina os
elementos necessários para a materialidade de suas poesias e nos convoca a
adentrar, a levitar, a contracenar com ele a beleza, a riqueza, a sutileza de
suas palavras.
É, assim, caro
leitor que “Flor Atrevida” convida você para fazer uma viagem no mundo mágico e
imaginário da poesia.
Boa Leitura.
Ana Cristina de Oliveira
Souza
Pedagoga e Mestre em Educação Brasileira
*APRESENTAÇÃO
“Vá, meu filho! E que o espírito de Jorge de
Lima lhe ilumine!”
Muitas décadas mais tarde, entre uma conversa
e outra, Emanuel, mencionou esse conselho de sua mãe, proferido num misto de
amor E proteção –na busca de defender–lhe das dores do mundo. Buscando
minimizar o impacto que é, para uma criança de apenas oito anos, a
transferência para uma nova escola (no caso para o Grupo Escolar Municipal
Jorge de Lima, por faltar-lhe condições para mantê-lo na Escola Cenecista, tida
como a melhor da cidade).
E esse menino de olhos arregalados,
providência divina, para que da vida não perdesse nenhum lance –afinal, sua
missão era relatar tudo com fidelidade –parece ter sorvido em grandes goles a
lição materna, buscando os passos do Mestre Palmarino, para guiar os seus que
de lentos e inseguros, foram se tornando fortes e confiantes.
Emanuel nasceu em União dos Palmares, e
por lá ficou muitos anos. Quem visse o menino franzino, aparentando fragilidade,
introspécto, contemplativo, não acreditaria os caminhos que percorreu.
Tinha o dom de transportar-se com facilidade
para o mundo da fantasia, onde moravam seus heróis, seus amores e seu Deus. E
lá permanecia, embora não se alheasse ao que se passava em sua Volta – no
“mundo real”.
Por muitos anos, em razão da deficiência
física, que hoje quase não se percebe (graças a sua mãe, que soube beneficiá-lo
com os poucos, mas efetivos recursos da época), acreditou não ter a mesma
capacidade que os demais, de sua idade.
Esquivou-se, poupou-se. Por algum tempo
permaneceu sentado. Mas a vida parecia lhe desafiar, com seus encantos.
Por muitos anos, carreguei-lhe na garupa, rua
à cima, rua a baixo, por acreditar –ele– que não seria capaz de conduzir uma
bicicleta. Um dia tentou; e não parou mais.
Mais tarde, perdi as contas das‘caronas’ que
peguei no quadro de sua‘magrela’. Depois, no banco do passageiro do seu carro,
e sabe-se lá onde mais, nos anos que ainda estão por vir, pois é irrequieto
demais para não ousar experimentar o novo.
Ele é assim. Parece lento. Mas em verdade
respeita o seu tempo. Gosta de apreciar tudo com a atenção e dedicação. Sorver
tudo, Em goles pequenos, em gotas homeopáticas, como respeito e a atenção que
as coisas e as pessoas merecem. De outra forma, algo ficaria de fora, passaria
despercebido.
Passou a maior parte de sua formação envolto
em livros, reflexões, sonhos e fantasias. Pouco se arriscou com a bola, o
velocípede, o rolimã...
Não foi de todo inútil o seu equívoco da limitação
física. De outra forma, ele teria corrido mundo e não se permitiria a
concentração necessária para desenvolver o seu espírito artístico,o gosto pelo
belo, o senso crítico, a ponderação, a paciência, a busca pela perfeição...
Não havia limites, o que só veio a descobrir
mais tarde.
Conheço-o de sempre. Acostumei-me com sua
presença em minha vida.
Por fases nos afastamos, na cadência natural
da vida, que em razão Dos nossos planos pessoais, nos conduz para longe. Mas a
estrada que nos leva, sempre nos traz de volta.
Se eu contar as horas que já passei a Seu
lado, mesmo que em silêncio, fruído de sua presença amiga... E como dançamos
durante todos esses anos...
Ouso imaginar que juntos despertamos o traço
de rebeldia deque Carecia sua vida. Pronto! Era o que faltava para o despertar
de seu gênio criativo.
Como todo artista, por vezes causou alvoroço
na pacata e diminuta comunidade.“Esse menino é louco!”.
A todos, ressalto: Calma! O gênio inventivo
estava em formação... Também como um bom artista, a ordem e disciplina não lhe
vergam.
Produz à sua maneira: Quando pinta usa café,
anilina de bolo e Dedos firmes, em vez de tintas pincéis e trinchas; sabão em
pedra, Em vez de pedra sabão para esculpir. Lembro-me de peças em barro,
inacabadas, que se perderam no tempo a espera da necessária queima no forno
–que nunca aconteceu – e que ainda hoje povoam minha mente, e num misto de
saudades e lamentação por nunca terem vindo aos olhos do grande público.
Por diversas vezes tentei: “Vamos lá! Só
produza! Deixe comigo. Descubro onde expor! Só me avise quando estiver pronto!”
E com um sorriso nos lábios ele ia me levando
em “banho-maria”, Como faz até hoje.
Pela primeira vez este artista – que só
revelou o que produziu para Deus – nos dará a honra de
conhecermos sua criação.
Escritor, pintor, escultor, professor, ator,
comediante, palhaço, amigo, companheiro... Expõe e brinca com suas fraquezas, o
que as debilita e neutraliza.
A todos: Emanuel...
Rita de Cássia Tenório Mendonça
ADVOGADA E PESQUISADORA DA ÁREA DE DIREITOS
HUMANOS
E INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA